Sei que o chavão é batido, mas é diferente falar dele quando se viu do outro lado. Os militantes do lado da justiça já estão cansados, e muitas piadas circulam entre eles por conta da citação do famoso julgamento do rei de Israel. Mas eu insisto, na citação, e digo que ainda hoje, e principalmente hoje, a despeito da modernidade dos computadores, e do infinito número de leis e emendas, que não existe nada igual em questão de justiça. Se os médicos são acusados de que pensam só em si quando se trata de doença, os da justiça vêem os que são julgados como um cliente que compre o seu produto, sem se importar com o que se passe com ele se for ou não condenado.
Vou resumir a história para que os que não se lembram, saibam do que estou falando:
Duas mulheres são levadas diante do rei Salomão com uma criança. As duas se diziam ser a mãe. Não havia nenhuma prova, porque seria a palavra de uma contra a da outra. Uma briga que já se arrastava talvez por uns dias. O rei, que deveria ser um homem ocupadíssimo, tinha que julgar questões como essas todos os dias, porque a ele acumulava mais o cargo de juiz.
Pediu uma espada, e disse que deveria partir a criança, e dar um pedaço dela para cada uma das mulheres. Daí em diante, qualquer juiz saberá julgar a questão. A mãe se joga em cima da criança, e numa cena que deve ter sido muito dramática, pede que o filho seja entregue à outra. Todos sabem que ela ficou com a criança.
Mais uma vez como vítima da justiça (ou da injustiça), reclamo os meus direitos sabendo que não os terei. Fui inocente, e não pedi recibo, porque confiei de todo coração naqueles que juntaram documentos, justamente porque estavam mal intencionados. Alem disso, eu os amei, pensando que era amado também...
Nem sempre as vítimas se armam. Porque quando se armam, já não são vítimas. A malícia nunca é vítima, e se arma sempre. Na maioria dos julgamentos em todos os tribunais do mundo, os inocentes são condenados por causa de tramas de malandros armados de testemunhas rancorosas e mal intencionadas.
Os inocente não guardam documentos.
Os inocentes não se armam.
Os inocentes não pedem recibo.
Os inocentes são inocentes.
Os inocentes, continuam inocentes. E também não percebem os tramas urdidos ao redor de si.
Mas a chamada justiça, exige provas. Exige documentos. Ela não olha no olho.
Não olhou no meu. Não ou viu uma só das minhas palavras. O advogado foi quem falou o discurso no meu lugar. Faz parte do esquema. O juiz não me perguntou nada, nem olhou no meu olho. Se olhou foi quando baixei a cabeça, envergonhado de ver tudo o que estava acontecendo comigo, e essa era mais uma prova para eles da minha culpa. É muito mais fácil acreditar num recibo ainda que falsificado que na palavra de um homem que não mente, mesmo porque não tenha porque mentir.
Todos sabem que entreguei tudo que tinha para os meus “credores”, e vaguei como mendigo. Mas um mendigo livre do peso das dívidas, e aliviado da pressão de ser um devedor, da falação e da incompreensão. Nesse dia eu tive esperança que daquele dia em diante eu seria um novo homem, até o dia que fui preso. Meus filhos e minha ex-esposa cobravam vinte anos de pensão alimentícia, e eu não tinha com quê pagar, porque tinha passado todos os bens em nome deles, e ficado somente com a roupa do meu corpo. Do juiz ouvi a sentença de culpa.
Gosto mais da frase do delegado: “Você está coberto de razão, mas vai preso assim mesmo”.