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Textos_Juridicos-->A IMPONÊNCIA DA LEI NÃO ESCRITA -- 28/04/2004 - 08:18 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A IMPONÊNCIA DA LEI NÃO ESCRITA

Existe uma filosofia corrente há tanto tempo, que se tornou uma lei não escrita, mas de tão grande vigor, que não pode ser negada. Mesmo porque a cada dia fica tão evidente, que passa a ser analisada não quanto a sua existência ou não, mas quanto a força que tem. São assim as leis não escritas... Um pensamento é aceito como a verdade, e em pouco tempo (mesmo que não seja), passa a ser considerado como tal, sem contestações.
Os conceitos morais e intelectuais já vêm mastigados e prontos, e não dão a menor chances de que seja saboreado com vagar um só dos pensamentos, e inúmeros outros já são empurrados goela abaixo... È justamente por isso que o livro, a poesia ou a arte em qualquer das suas manifestações perdem em valor. Não há nenhum desses itens que possa ser degustado às pressas sem perderem seus valores.
Hoje, tudo à nossa volta se torna descartável. O barbeador, a literatura, o carro, o emprego, a casa, a namorada, a família, o trabalhador... são assim. A lista é enorme...
As coisas passaram a ter mais valor por ser urgente que essenciais. Comer dormir e vestir deixou de ser essencial há muito tempo. Talvez o leitor não concorde comigo, porque ele não viveu há um pouco mais no tempo, pra entender o que estou dizendo. E se o leitor discorda, nem adianta citar os livros que li, porque ele definitivamente não é do tipo que gaste um pouco do seu tempo com essas coisas (também pra ele) descartáveis.
O urgente descartável é barulhento demais e sufoca o sossego do essencial que continua silencioso, talvez com aquele (descartável) antigo conceito de que o sábio será ouvido mesmo calado. Eu próprio já disse que o sábio calado fala mais que mil tolos. Tenho que dar a mão à palmatória. Tenho que refazer os meus conceitos, porque senão não poderei sobreviver nesse mundo de objetos, conceitos, (e também pessoas) descartáveis.
O descartável faz propaganda de si mesmo a todo instante, e não podemos ficar um momento sequer sem ouvir o seu barulho, a menos que estejamos dormindo. Mas “durma-se com um barulho desses...” Já notei que o essencial ficou tímido... Vejam as propagandas dos livros por exemplo. Lembre das campanhas do governo para que todos leiam. Elas já nascem mortas, porque os mentores das campanhas não são encantados com o essencial. A propaganda da leitura na televisão por exemplo, é feita mais ou menos com o mesmo constrangimento de quem é pago para dizer uma mentira...
O importante precisa levantar um pouco a sua voz, para que haja um pouco de sabedoria. Precisa mostrar que a televisão é urgente (e não essencial), mas que cada dia se firma como não descartável, numa troca perigosa de valores. A religião prega um evangelho também descartável, e basta você levantar a mão depois do apelo, ou colocar a oferta no envelope como uma indulgência moderna, para que Deus se mova com todas as suas forças em seu favor. Basta que o jogador de futebol faça um ritual (descartável) para que o anjo mais poderoso troque de time no mesmo instante e dirija a bola com toda força e precisão para o fundo do gol do outro clube, que não teve um só que fizesse a mesma mandinga pra evitar a catástrofe.

O essencial não entra no modismo. Ou você come e dorme direito, ou sofrerá as conseqüências. E elas serão terríveis porque em pouco tempo será um cliente (descartável) num fichário de um hospital qualquer. O essencial não se deixa dobrar pela pressa do jovem marido que quer terminar logo o seu sexo (também descartável), para correr para a velocidade das imagens da Internet que para ele se tornou essencial... Logo, ele também será descartável, e a mulher que não tem sentimentos assim suspirará pelos músculos do ator da novela, depois pela atenção do carteiro, e mais tarde passará a levar um daqueles papos com o jardineiro, que nem desconfia das suas necessidades essências que foram negadas a pouco pelo marido descartável.
O urgente convenceu às pessoas que ele é essencial... Antes a religião dizia que era preciso andar com Deus. Agora basta levantar a mão. Antes era preciso fazer um esforço enorme para conseguir assimilar a alegria que os comerciais de bebida oferecem. Era um enorme esforço para aprender a conviver com a família e ser fiel à esposa com quem se casava virgem, e hoje se pode ficar com uma e outra no espaço de um tão pouco tempo que nem sei falar porque sou um desses caras que ainda acredita no essencial.
Sei que o leitor vai rir de mim. Mas é até bom que ele ria porque o seu riso amarelo me lembrou de dentes e vou escovar os meus que ainda tenho todos na boca. Os dos que riem são descartáveis...

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Adelmario Sampaio
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