Não sei... Claro que não sei se a minha amiga tem dois quintais implatados sobre os calcanhares. Embora a imaginação tenda ao desfio lógico, outrossim não sei se a minha dilecta se inclina sobre um abdómen de três arrobas amparado por dois presuntos de javali após cem cestas de fumeiro. Não sei, não me interessa, não é isso que eu quero saber. Estou farto de conhecer sobre os 999 lugares em comum que o tudo-e-nada desta vida tem. Estou enjoado de olhar o lindo... Comer... Comer... Comer e... Infalivelmente ter vontade de vomitar e não conseguir fazer retornar à boca o que provei, mastiguei, saboreei e engoli. Sim... Estou plenamente a abarrotar de hidras. Por mais pernas que corte aos bicharocos, mais pernas acrescem e me embaraçam a existência.
Também não sei se o estoico Viriato veio a nado de Marrocos ou metido sobre um tronco de árvore escavado. Se veio... A pé ou a cavalo, teve de passar o Tejo a toda a brida. Terá depois descoberto que era perigoso atravessar o Douro. Mesmo assim os "bestiais-entre-si" arranjaram forma de o assassinar. Tanto andaram, tanto andaram... Que passados 1700 anos descobriram que no Brasil existiam humanos semelhantes para escarrapichar. Oh... Se no Brasil fosse como na lua, tinham vindo todos embora...
Mas... O que sei e tenho a certeza absoluta disso... É que o essencial actualizado do ser humano em 2004 se implanta numa legionária cambada de intrujões que, presumindo saber o que quer - ó minha mãezinha - está permanentemente a descobrir o que não quer... Mas quer!... É possível?... É... É obrigatória e infalivelmente possível. Por isso mesmo sobrevivo sumetido à pressão colectiva dos que pecam sistematicamente todos os dias e todos os dias pedem descaramente perdão jurando não pecar mais...
Chegado aqui... Pois... Sair-me-ia naturalmente num ápice um palavrão. Mas não sai. Substituo o aventado por um refinado e justificadíssimo insulto ao qual desde já imponho extremo polimento: excelentíssimo senhor doutor juiz perdoe-se lá do que eu não fiz e... Pague-se na mesma: está aqui o dinheiro!... O dinheiro foi inventado pelo mais honrado e honesto dos cidadãos!... Apre... Arre!... Preferia que me chamamassem "fdp"...
Ah... Mas porque enunciei eu este texto com referência à minha dilecta amiga que se presume tenha cinta de um quarteirão de pés?... Tão só para afirmar que, fosse ela até invisível, o meu sentimento sobre as pessoas não tem capacidade para medir ou pesar: o que um ser humano é por fora... Para mim e agora... Deixou de existir há mais ou menos cinco lustros atrás... Logo que bati com a cabeça de encontro a dois postes de osso que a minha mulher introduziu subrepticiamente e deixou a fingir um vulto na cama. Quando cheguei, tarde e a más horas, a primeira sensação que tive... Deu-me a impressão de que ela estava a dormir tranquilamente. Mas não estava a dormir... Não!
Frase: Tudo começa do nada e em nada acaba... Sempre... Sempre à volta... Sempre à volta...
Torre da Guia = Portus Calle