Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil está se tornando um País de gente idosa em sua maioria. Paradoxalmente, alguns parlamentares têm dado ênfase em seus projetos, não raro, demagógicos, tratando a terceira idade como algo frágil e dependente e como minoria que não é mais.
Vide leis sancionadas assegurando passagem gratuita para os que têm mais de 65 anos de idade, entrando pela porta da frente dos coletivos, prioridade na tramitação de processos judiciais e fila especial em Bancos e outras instituições.
Claro que quem passou dos 60 anos é digno e merecedor de privilégios, eis que trabalharam muito, contribuindo para o progresso do país.
Mas indagamos: tratar o idoso como "indefeso", frágil e incapaz de levar uma vida normal até que ponto não ensejará um efeito contrário e pernicioso em sua auto-estima?
Explico: incutindo na mente dele, ainda que de forma sutil e protecionista uma pseudo incapacidade, não se estará pondo limites ao muito que o idoso ainda pode e deve fazer por si mesmo e para os que o cercam?
Lembremos de maratonistas vitoriosos como Aldo Manfrói, mineiro de Juiz de Fora que já passou há muito das sete décadas de vida!
Escritores lúcidos e espirituosos como Zélia Gattai que nos brindam com estórias de vida exemplares que são um alento para o espírito até dos adolescentes, mergulhados em suas crises de transição.
Empresários como Antonio Ermírio e Roberto Marinho, este com 90 anos de idade física, mas trinta de espírito que acorda às cinco horas e às sete já está na empresa O Globo, inspecionando e comandando milhares de funcionários, com capacidade e determinação.
E muitos outros exemplos que poderíamos citar indefinidamente, provando que ser idoso não é sinônimo, seguramente de fragilidade ou incapacidade.
Ser idoso é compartilhar grandes experiências adquiridas. É não ter mais a pressa e ansiedade do jovem. É ter consciência de ser mortal, sem contudo deixar com que isto impeça novos projetos para o futuro.
Claro que o idoso merece carinho e prioridades.; prerrogativas por ter contribuído e em muito para as gerações subsequentes.
Mas que essas mesmas prerrogativas não sirvam para incutir em suas mentes o sentimento de inutilidade.
Destarte, ele mesmo, deverá saber fazer uso delas. Como? Misturando-se ao povo em filas de Bancos (a não ser que esteja temporariamente doente) como se tivesse 30 ou 40 anos, para nos alegrar com suas estórias e conselhos enquanto espera ser atendido.
Entrando pela traseira do ônibus, de vez em quando, mostrando todo o seu vigor e possibilidade de ter uma vida normal". Ativa como qualquer um.
Dedicando-se a atividades esportivas ou produtivas, como cursar uma faculdade, sem medo ou sentimento de menos valia.
Só assim dará chances a seu corpo e ao seu espírito de se renovar a cada dia, aproveitando a dádiva da vida dada por Deus a todos nós.
Exercendo enfim, seus direitos de idoso, mas sobretudo, tendo o direito de ser idoso sem valer-se disso para acomodar-se e não dar vazão à riqueza interior que possui e muitas vezes é relegada, esquecida em seu próprio detrimento e por egoísmo em não querer dividí-la com seus outros irmãos do Universo.
Onde há vida há crescimento. Querer deter este processo é contrariar as leis divinas e perder grandes oportunidades de ser feliz! "
*Paulo Plaisant é advogado, jornalista e escritor. O e-mail para contato é apoio24h@ig.com.br