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Teses_Monologos-->O VISLUMBRE DA ALMA -- 05/05/2005 - 09:21 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O VISLUMBRE DA ALMA*

Rebelde... Muito rebelde...
Fui uma criança rebelde
Uma acrobata na vida
Diligenciando seu intento.
Hoje perdi tal rebeldia
Por esquecê-la totalmente
No meio de uma agonia.
Minha família, feita de muito amor,
Exprimia o sentimento em silêncio
Com gestos sutis que eu não decodificava
Com doces olhares que eu não descortinava.
Resultado disso (desse amor em off):
Uma dor profunda
A dor de ser rejeitada e a dor de ser ignorada.
A criança que eu era
Traduzia sua vida
Como mera vivência de abandono.
A criança que eu era
Para romper o indecifrável silêncio
Falava pelo incessável choro
Falava pelo atalho da rebeldia.
Era preciso ser notada, ser amada
Mesmo se espancada.
Então, acrobaticamente,
Jogava-se ao chão
Tinha acessos de fúria
Puxava os cabelos
Como se fosse arrancar todos de uma vez
Feito uma tampa que se tira de uma panela.
Quase sempre, na terceira atuação,
O silêncio se rompia
E uma surra irrompia
Única, danada
No intuito de eu não repetir a ação.
E não se repetia...
Mas criativa, muito criativa
Eu ia em frente e atuava diferente
Com nova acrobacia.
Pisava bastante no barro
Entrava triunfalmente
Com os sapatinhos enlameados.
Da cômoda pulavam
Camisas brancas passadas com esmero
(pobre de minha mãe em desespero!).
Elas caiam no chão
- o palco de meu bailado -
Para uma dança de chamar surra:
Um passinho pra cá... xixi
Um passinho para lá... xixi
A dança ia molhando as camisas
E eu sapateava, sapateava
Mais e mais, em compulsão
Deixando o branco virar barro.
Quase sempre, na terceira atuação,
O silêncio se rompia
E uma surra irrompia
Única, danada
No intuito de eu não repetir a ação.
E não se repetia...
Mas criativa, eu criava, criava outras
E vinha a surra
E eu criava outras e outras e outras...
Até que, provavelmente, perdi a força de lutar.
Na tenra infância, de alguma forma,
Deixei-me naufragar...
Fui ao fundo, fui para bem fundo
E a rebeldia foi engolida pelas ondas.
Mas criativa, muito criativa,
Encontrei uma estratégia:
Guardar a raiva só para mim
Engolir como se doce fosse
E esquecer...
Esquecer tudo
Entender tudo
Entender para sobreviver.

Crescida
Não armazenei nenhuma dessas cenas.
Foram deletadas de minha mente
Eu as esqueci completamente
Meu inconsciente ocultou tudo
A rebeldia perdeu-se num passado apagado
Só sei porque me contaram.
E eu fiquei sendo da paz
E quem é da paz não pode sentir raiva
Nem fazer aquelas coisas horríveis.
O que fazer se a raiva aparecia?
Impedir, conter, não demonstrar...
Muitas vezes a raiva dava um jeito
Para, em forma de agressividade, se safar
Disfarçada num monstro de teimosia
Num canhão de resistência...
Também desenvolvi uma sensibilidade aguçada
Toda açucarada pela necessidade dos outros
A ponto de torná-las minhas.
E pondo o mínimo para mim
Moldei-me às pessoas...
Em busca da sensação de participar de algo maior
Substituí as prioridades essenciais
Pelas acidentais:
Protelar
Procrastinar
Empurrar com a barriga minhas demandas
Foi grande parte de minha vida.
Fiz de tudo para evitar conflito e confrontos.
Dizer não?
Impossível...
Explosões?
Só em gotas d’água, uma a cada século...
Ficou difícil entender minha própria natureza:
Dentro, uma força de fera
Fora, um foco de indolência...
Fui obrigada a procurar a confiança
Buscando equilibrar a balança:
Num prato, a agitação interna
No outro, a tranqüilidade exterior.
Hum! Hum! Eu detestava:
Tomar decisões rápidas
Lidar com um compromisso que não queria assumir
Ser controlada
Ser dominada...
E ser menosprezada, então?
Mas se eu não me considerava importante
Como os outros iriam me tratar?

Atualmente me observo mais
Sou honesta comigo mesma
Para me conhecer melhor.
Faço a caça ao tesouro
Para conhecer o mapa de minha alma
Pois quero vislumbrar essa face que não vejo.
Descubro, com a tipologia do eneagrama,
Que faço parte dos que fazem de tudo um pouco:
Sei fazer torta salgada, torta doce,
Bolo, docinhos...
Sei fazer crochê, tricô, bordado...
Canto, danço, pratico esportes, toco piano...
Sei lidar com criança,adolescente,
Terceira idade, todas as idades...
Escrevo, faço teatro, declamo...
Falo um pouco de inglês, francês e italiano...
Ah, mas que generalista!
Será que não sou mestre em nada?
Na verdade, estou vendo que não valorizo meus dons
E sei que me serão cobrados...
Sei ainda que não posso nunca
Diminuir-me perante os outros
E que estou perdendo o medo de mostrar a cara
De manifestar minha potencialidade.
Estou emergindo do naufrágio lá da infância...
A rebeldia da criança, não pude resgatar
Porque sua marca já estava em mim
Visível como se fosse a ferro em brasa:
A cabeleira rebelde
Inteiramente indomável
Não há “coiffeur” que a consiga domar.
Estou feliz por estar buscando minha face interna
A face que tem beleza e encanto eternos.
Consigo prioridades definir e decido agir
Mas se empurro um pouco com a barriga
Isso não barra, não abala qualquer decisão
Vou em frente!
Sinto-me profundamente ligada à minha opinião
E já sei dizer não.
Placidamente aceito desconforto e mudança:
São fatores naturais da vida.
Ao ser relegada, menosprezada, sei usar a raiva
Não há por que me fechar.
A ninguém preciso me moldar
Porque – como todos neste planeta –
Temos a pré-destinação
De sermos amados incondicionalmente
Nosso valor e bem estar vêm de dentro.
Estou me lembrando de lembrar de mim...
Estou atenta às minhas necessidades,
Sentimentos e metas
Então não quero pegar carona em sonho alheio
Quero sonhar o meu próprio sonho
Torná-lo real com minhas mãos, pela minha vontade
Moldá-lo a mim.
Aprendi a me amar
E amo os outros como a mim mesma.
Sim... Sigo o que o mestre disse.
A paz agora está em mim e é para ser promovida
Sou promotora da paz
O que significa – em alguns momentos -
Expressar-me em duras verdades
Embora com calma e naturalidade.
Sou profeta mansa
Que não foge da luta
E na paz descansa...
*monólogo inspirado em caso verídico,e baseado nos estudos do Eneagrama, de Richard Rohr e Andreas Ebert


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