Sou uma ilha – um pedaço de gente cercada de lágrimas por todos os lados.
Inúmeras são minhas mágoas, meu sofrimento é vero e só conheço uma forma de expressar minha dor. Por isso me isolo e choro. Cansei de dividir com amigos e até com estranhos o desespero que morde minh’alma e leva à debacle meu organismo. Tenho plena consciência do meu isolamento. Tudo é desculpa para me magoar e fugir do convívio exterior. Meu excesso de sensibilidade leva-me a isso. Fecho-me cada vez mais e tenho vontade de jogar fora a chave que abre meu coração.
Sinto que, apesar de tudo, começo a amar minha solitude. Curto ficar em silêncio escrevendo sem cessar. Sou capaz de varar madrugadas, a vista turva, a cabeça pendendo, quase a dormir sobre o teclado. Só aí me entrego e me rendo ao sono, brutal, a interromper o pensamento. Penso que me basto, ou melhor, o que me basta é minha escrita. É através dela que choro, rio, gozo, provo toda sorte de emoções. Que bom. Nada mais quero e estou satisfeita, por mais paradoxal pareça. Espero, apenas, que essa fluência não me abandone pois a vejo como parte de mim, um prolongamento da criatura que habita essa casca de pele, músculos e ossos.
01/12/02
|