Ouvi-me, vós que hoje assistis à morte de um inconfidente!
Poucos minutos me são dados nesta hora, por isso sou breve.
O que viestes ver?
Uma execução? Um enforcamento?
Sim, uma execução. Um enforcamento.
De um assassino, culpado e traidor?
Ou de um inocente?
Sim, o que viestes ver?
Digais... se compreendeis ?
Aqui estão presentes autoridades.
E as autoridades são autenticadas pelo rei.
O que elas vos disseram?
Não estou aqui para defender, nem atacar.
Mas... eu o digo!
Vos disseram que este alferes, Joaquim José da Silva Xavier,
Cujo corpo vedes inerte, derrotado pelo carrasco,
Foi um conspirador. Sim, um conspirador contra o Governo e a Metrópole.
Se este foi um conspirador, aqui jaz seus atos de conspiração,
Que agora o acompanham.
E se foi apenas um patriota em defesa de sua pátria?
E se foi apenas um inconformista que não queria ver
As riquezas de seu chão levadas embora de sua terra?
O que permanece nas mentes dos que, com este ato,
Tiraram o espírito deste inconfidente?
Julgai isso!
Notai!
Este alferes passou três anos na masmorra escura e fétida,
Sendo interrogado por seus algozes.
Assumiu a responsabilidade do levante, inocentando os demais.
Não falo do que não sei.
Este teve a coragem que não teve os outros.
No entanto, jaz aqui fracassado.
Que vós fiqueis sabendo que hoje, neste campo da Lampadosa,
Onde se ergueu esta forca, retirou-se o espírito de um sonhador e idealista.