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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->HONRAR PAI E MÃE -- 17/08/2002 - 21:16 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HONRAR PAI E MÃE
- Baseado na obra de Silvina Bullrich -
Personagem: Ele ( ) e Luz ( )
CENA 1
( Um homem escrevendo à mão ou à máquina. Ao lado a mulher, Luz, meio entediada, lendo uma revista comum, à espera dele no sofá. )
ELE: Eu sei que você não gosta das minhas histórias.
LUZ: A única coisa que me faz bem é fazer amor com você, depois... sair ao restaurante e ir ao cinema.
E: A condição para essas “coisinhas”... você já sabe...
L: É que eu escute os seus contos... que o espere a escrevê-los...
( Ele olha para Luz )
E: Bom. Vou ler a epígrafe dessa nova história para você.
L: O que é que é isso?
E: Epígrafe é a frase que se coloca no alto da página, um pouco abaixo do título para...
L: Tá bom, tá bom... leia...
( Ele se prepara. Limpa a garganta )
E: Sabe por que Cristo não quis a sua Mãe? Por que era Virgem.
L: Não entendi... é algum tipo de piada? Frase idiota!
E: É... é uma frase idiota. Todo mundo quer sua mãe e todos sabemos que ela não pode ser virgem. Mas, todos nós cremos que ela seja virgem. Aí está o equívoco. O matrimônio é uma instituição feita para que os filhos creiam que sua mães sejam virgens.
( Luz olha meio desconfiada, meio com medo)
L: Isso é um absurdo. Todo mundo sabe que u’a mãe não pode ser virgem, salvo a Virgem, é claro, a Virgem Maria, a Virgem de Fátima, a Virgem Aparecida...
E: Eu já entendi ( meio piedoso )... você é que não entendeu o que eu quis dizer. Pensa um pouco e diz seriamente se algum filho pode imaginar, sem horrorizar-se, os amores de seus pais. Ele não imagina isso. Ele não admite. Não cabe em seu universo..
L: Então a frase passou a ficar mais idiota ainda. Se todos querem sua mãe, imaginando-a Virgem em certo modo, Cristo não será nesse terreno uma exceção e não há motivo algum para que ele não a tenha querido... ou seja, ao menos esse motivo não serve.
E: Tem razão. Não havia pensado nisso. Então vou escrever outro conto. ( rasga os papéis já escrito ou retira da máquina de datilografar ).
CENA 2
( Ele, o rapaz, no mato. Acorda suando. Olha em volta. Nada vê )
E ( para os céus ): Eu a quero como nenhum homem quer a uma mulher. Em forma total e irreparável. Daquela forma que se quer a quem se está esperando muito. A quem se tem desejado noite após noite, sem maior apoio que a minha própria imaginação. Sempre paciente, eu a vou criando em minha imaginação... vai sendo modelada... eu acaricio... eu a possuo... ( grita aos céus ) Injustiça! Injustiça céus! Injustiça! ( Ele vai ao chão e close, meio atordoado, suando, dormente ) Frustração. ( olha para o Céu com certo ressentimento, se levanta lentamente, se ajoelha e agradece. Ele sempre leva a mão a uma ferida que tem nas costelas, como um corte. Esse será um movimento que o ator fará sempre. ) Obrigado pela mulher que há de vir.
( A mão da mulher sobre os ombros dele. Ar de felicidade dele. Se olham. Ela está séria, mas ele está contente, contido. Olha para ela e para os Céus alternativamente ).
L: Quero dizer, antes de tudo, que eu não o quero com a mesma paixão. ( ela não está com raiva ) Eu não estava esperando por você. Não sonhei você. Essa situação, para mim, é como uma imposição. ( ela passa a mão pelos cabelos dele ). De qualquer maneira você é o único homem para mim. O único. O único que vai me compreender... me amar... e seguir-me até o limite de suas fantasias.
E: Tenho pena de todos aqueles que não terão a oportunidade de estreitar a mulher sonhada em seus braços. Não se pode crer. Você está aqui, bela, sonhada, minha, com aroma da terra. A solidão anterior agora é apenas um mau sonho.
L: A única realidade é a minha presença. Mas saiba que nada que vem de cima, vem de graça. Tudo tem um preço. E para ser uma homem completo e feliz o preço será pago em sangue.
( corte para o escritor na datilografia )
E: A idade dele era idade daquela ingenuidade de todos os homens. Não sabia ele que o amor mais perfeito se torna chato se não há algum tropeço no meio do caminho. Talvez seja sempre chato para todas as mulheres que esperam do amor mais do que o amor pode dar.
CENA 3
( Mato ou perto do Rio. Enlaçamento dos dois. Olhos nos olhos. Moleza. A Natureza. Umedecimentos. Idéia do ócio infinito. Passeando de mãos dadas. Conversas ao pé do ouvido. Um dia, ela muito sonhadora... ).
E: O que foi, mulher?
L: Nada.
E: Algo está acontecendo.
L: Estou chateada. Isso não é vida.
E: Como assim?
L: Nós estamos deslizando pelo tempo. Somos autômatos, sem vontade, sem ambições, sem perguntas e sem respostas.
( ele se entristece sem saber o que fazer. Ela percebe que ele vacilou )
L: Vamos sair. Algo dentro de mim diz... vamos viajar. Conhecer os vales, as montanhas que estão longe, os mares.
E: Não podemos sair daqui... podemos?
L: Saber o que somos nós... o que sabem por aí... qual o tamanho do mundo.... qual o nosso valor para o mundo...
( close no homem. Fade out enquanto ela fala )
CENA 4
( As mesmas personagens mas, cobertos de pele de animais.)
L: A culpa foi sua por ter cedido. Nunca está em casa. Fico sempre sozinha. Tem que trabalhar de sol a sol e essas mãos... duras.. ríspidas... já estão me dando nojo...
E: Mas, as crianças fazem companhia para você...
L: Nem me fale nisso. Só de lembrar das dores que tive dá vontade de.... de... ( faz movimento de esganar alguém )... Ter que deixar passar gente pelo meio das pernas... meu buraco ficou desse tamanho...
E: A colheita vai ser boa esse ano...
L: Por que você me deu ouvidos? Por que você fez o que eu queria? Tínhamos tudo... não era preciso trabalhar... nada de ganhar o pão com o suor do próprio rosto.
E: Os meninos até que ajudam...
L: E ainda ter que dar à luz com dor e sofrimento a Caim, a Set, a Abel, e esse bando de gente estranha que nunca vi e me deformou... que acabou com a minha forma inicial... minha forma original...
E: Foi você quem quis... eu tentei...
L: Isso foi um erro terrível...
E: Você preferiu a ciência e as emoções... em vez da insossa felicidade.
L: E essas crias nem me ouvem... parece que não me querem...
E: É mais fácil honrar a u’a mãe sem iniciativas... talvez seja essa uma forma de punição.
L: As crias podiam ser mais justas...
E: Não acho que sejam injustos... podem ser rancorosos, mas não injustos... Sabem muito bem que terão de pagar para o resto das suas vidas o erro que cometemos. Agora todo mundo sabe que a missão dos filhos é pagar uma conta bem detalhada dos erros dos pais.
CENA 5
( Na casa do escritor, finalizando o escrito )
E: Por tanto resulta que o Homem pague sua debilidade tendo que parecer forte... bem mais forte do que é. E a Mulher pague o seu amor pela ciência tendo que parecer frívola... displiscente. ( para Luz ) Gostou?
L: ( ela, meio que dormindo ) Sim... mas podia ter escrito outro dia, em vez de trabalhar toda noite.
E: Prometi ao editor que entregaria logo pela manhã, sem falta.
L: Nunca pode sair bem algo feito por obrigação e pressa.
E: Engano seu! Paul Valéry dizia que só escrevia bem se fosse pressionado.
L: E você acredita nisso? ( ele dá de ombros; olha para o papel, orgulhoso ) Mas, o que eu quero saber é o que é que isso tem a ver com “Honrar Pai e Mãe”?
E: Como não tem a ver? Imagina se nossos primeiros pais nos preparam um mundo tão difícil, uma vida tão cheia de arestas, uma luta sem quartel... se jogam fora o paraíso...
L: Mas, isso é uma lenda...
E: Lenda ou não... isso gerou um ódio entre os irmãos. E eu não me lembro se disse que papai perdeu totalmente um paraíso de trinta mil hectares e não temos raiva dele...!
L: Você está querendo me gozar ou está dizendo que seu pai era Adão?
E: Sim. O nome do meu pai era Adão. De verdade. Na vida real, quero dizer. E deu o nome de “El Paraíso” a uma estancia que ele tinha.
L: E vai me dizer que o nome da sua mãe era Eva?
E: Não! Eva era a sua querida e ele perdeu “El Paraíso” por causa dela.
L: Tu tá gozando com a minha cara?
E: Não! É verdade. A história se repete. Eva queria peles, vestidos, carros, queria viajar, se entediava ... não queria mais ficar no “El Paraíso”...
L: O seu pai a levava à fazenda?
E: Sim. No inverno quando não íamos nós. Acho que a minha história é melhor que essa que eu escrevi. Será que eu não poderia refazer?
L: Não! Não é nem melhor e nem pior... é a mesma história! Vamos sair!
E: É o que você acha?
L: Com certeza! Mas, vamos embora que estou faminta. Chega de ficar em casa, já que não vamos fazer amor, mesmo, pelo menos vamos sair. Vamos comer uma pizza por ai. ( ela sai. Ele ainda fica a olhar o papel e deita o papel na mesa. Luz lá de fora ). Caim! Você vem ou não vem? ( ele sai sobra o papel sobre a mesa ).

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