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| Poesias-->Filho do Escuro -- 08/11/2004 - 10:11 (José Ernesto Kappel) |
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Fica de presente
a fila de minha dor.;
arruma nela
seu pranto e cor.
Entra com adornos
e enlaça o que me resta
com seus traços
que te revoam à testa.
Entra com a festa
que eu entro com a perda.;
entra com a fresta
que eu me deixo lerdo.
Entra com o amor
que eu fecho as portas.;
entra com seu milagre
que eu o percorro toda sua cor.
Sou marinheiro e fico à estibordo,
quando encalho nos vestais de seus olhos,
nado e permeio de sal - igual aos cordos!
Mas não me deixe sozinho, pois de sozinho,
encolho!
Sou fácil e corrediço
não faço questão disso!
Se perdi, perco de novo,
se ganhar, faço a festa de dengo,
afinal fui eu quem descobriu
que o milagre não é coisa daqui.
Nasceu em seu corpo, ao lento,
e me mostrou que, às vezes, o
melhor caminho é o do vento,
pois trás você de volta
numa roda que até
criança faz chorar!
II
Sou filho do escuro,
e não me apetece brumas.;
sou filho regenerado,
mas não sou capitão de escunas.
Sou filho passado e construído,
lentamente, através de meu tempo
e dele não abro mão,nem que me tentem.
Sou filho das águas
e não me apetece o largo.;
sou filho da álgebra com
o amor.
Na matemática de horrores,
nasci aqui com alto indolor!
Não posso mais sentir meia-pena
não posso me envolver nem com os dias
- neles me perco -.
Não posso me envolver com nada vivo
pois me sombranceio de angústia.
E tudo é palpável como
brinquedo de criança.;
a vida pulsa a cada metro,
e me desaba por dentro
um tino de tristeza,
pois alcançar a vida
não dá mais reteza.
De dia branqueia a lua meiada
à noite, ela de gala,
se posta ao meu sombrelo de pala
e diz:
nunca mais, nunca mais
fará parte de qualquer ala.
Viro brinquedo disposto
e carinhoso.; viro régua de quatro,
mordono de jardim, reta larga,
de mão dupla, corrimão de
casa velha e, de repente,
se abre um longo
espaço para minha festa interior:
e,assim, estou pronto.
Já não sei mais fazer nada.
Sou personalizado!
Receio que me cantem de
eternas orações lá no céu,
por isso tiro o chapéu e
esperro.
Espero as orações chegarem
a mim. Mas isso leva tempo.
Até hoje já levou um montão
de milhares de anos.; anos e anos,
sem manobristas!
Enquanto isso coloco pela casa,ramos,
faço minha agenda,
ouço as notícias,
me remoejo com a indolência.
Hoje sou prato frio,
com amplo estacionamento.
Tenho qualidade no atendimento,
mas perco pela voz e pelo aniquilamento.
Assim, passam os dias
e eu rapasso as mãos no vazio,
procurando decalque de estrelas
prá me marejar.Um alívio!
Sopra o primeiro vento de inverno
e eu me guardo.
Tenho medo de ter medo,
tenho receio da apreensão,
tenho pressa de ser o que não sou.
E nesta hora quando se falam em santos,
arredo o pé. Tento tanto medo de pertencer
a qualquer céu ou reluzir nesta amarga Terra.
Me dói,sem assistência de fenecer!
Fico só. Tá bom assim.
Abro a janela e vejo passar
meu primeiro sonho da vida:
achar um copo mágico de vinho
e sofregar um gole suave,
prá afastar minha vida
da vida que me criou,
das coisas que disseram que eram
e agora morreram - ou morrendo
estão -
plenamente e devastado,
pelas minhas mãos vão escorrendo.
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