86 usuários online |
| |
|
Poesias-->Múltiplos amores -- 31/08/2004 - 19:42 (Rodolfo Araújo) |
|
|
| |
Acordá-la de manhã
Quando o atrevimento ainda dorme
Tirar seus olhos do repouso
Sentir a boca ainda morna
Da noite que passou
Do amor que se formou
Em paz
Deixar as cortinas flutuarem
Separando as pontas lentamente
Luz, era tão ausente
Mas apareceu invencível
Na alvorada incrível
No florescer em torpor
No parto silencioso desse amor
Esquecer-se dos prédios ao lado
Atacar as leis como se a caminho
Estivesse o astro derradeiro
Deixar de lado as roupas
Abandonar os poréns
Sucumbir contigo, minha mulher
Nos roseirais de vinho
Que plantamos outrora
Na noite passada
Nos lençóis marcados
Pela silhueta da amplidão
Pairar as pupilas sobre meus dedos
Medindo seus relevos
Caminhando sobre as águas
Que faz correr por ti
Levando a vida para onde caminha
Pintando em verdes e azuis
As trilhas que desenha
Ajoelhar diante de seu canto
Ouvir o delírio das notas
Perder-me no impalpável destino
Gélido, cortante, castigo
Cruel e, por isso, divino
Dedilhar os cílios
Que tão belos olhos emolduram
Declarar o puro amor
Que ebule, borbulha, declama
Cantar serenatas solitárias
À espera, sob a varanda
Aguardando a mão estendida
Aquele que chama
Proclama aos ventos
Que espalhem
E semeiem
Colham, depois
Os filhos
Os sonhos
Os desvarios
Os hiatos
Os semblantes
As músicas compostas
As lágrimas volumosas
E os sorrisos largos
Da felicidade plúmbea
Da tristeza iluminada
Adormecer em seus ombros
Confidente, confessor
Acordar repentino
Afogado na noite
Mergulhado em seus lábios
Sentir a textura
Esvaindo a agrura
Expurgando o percalço
Vão-se as dores
Multiplicam-se, como pão
Como sangue
Os amores
Em mim
Que nunca morrem
Que se duplicam
Freneticamente
Diariamente
Case-se, pois,
Na brevidade fremente
Num agora latente
Posto que os suspiros
Jamais mentem.
|
|