LEGENDAS
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral )
(
! )-
Texto com Comentários
Poesias-->Contexto (*) -- 28/08/2004 - 14:31 (Benedito Pereira da Costa)
Contexto (*) Modifica tanto Essa pedra dura, Que a escultura Ganha só encanto. De repente, encontro O artista do mármore Debaixo da árvore, Que diz: "Breve apronto!" Gasta tempo enorme. São dias e noites, Do vento aos açoites, Trabalha e não dorme. A imagem mais bela Quer ele esculpir. E, no seu porvir, Lapida, cinzela. Repensa o escultor. O marmor desgasta.; Diz alto: "Não basta!" -- Trabalho de amor. Tarefa difícil. Nem sempre acabada Como é esperada: Pedra não é císsil. Engenho de mestre, Técnica de artista. De longe se avista A rocha e o cipreste. Na busca da forma, Esculpe. Melhora O talhe. Aprimora. Nunca se conforma. A arte não é hêmera.; Para dominá-la, É preciso amá-la E ter muita têmpera. No Direito "civile", Busca a disciplina.; A vista lhe ensina: Não pode ser mítile. Usa a ferramenta Com todo o cuidado E não ouve o brado Que surge e aumenta. Suas efemérides Vão contar bastante. E sonha, distante, Imagens hespérides. Esculpe contente. Na vaidade fátua, Remodela a estátua, Que parece gente. Nela, o antagonismo: Rosto um pouco lépido, Olhar vago e tépido Com ar de cinismo. Cabelo lofócomo, Penacho eriçado, Tronco cinzelado Por corte diáfano. Nariz amassado. Lábios leptocúrticos, De contornos rústicos, Lembrando o passado. Face arredondada. Grossas sobrancelhas, Pequeninas celhas: Imagem sagrada. Pouca claridade Faz-lhe o corpo opaco: Parece um meinácu Na primeira idade! O artesão corrige: Procura um detalhe. Não encontra o talhe Que o capricho exige. A luta perdura Na lida incessante, Que o ofício garante Talhar a escultura. Com os instrumentos, Em plena ação, Sequer treme a mão.; Voa em pensamentos. Bate forte o gradim.; Vê: é firme a pedra... A restrição medra E nunca tem fim. Empenha-se bravo No trabalho ingrato.; Dá-lhe todo o trato: Da torna-se escravo. Nunca iconoclasta. Torce, ajeita, emenda A imagem tremenda, Que pule e contrasta. Quebra a ferramenta Buscando os contornos, Sem ferir adornos Que a figura ostenta. Não é tão bonita A face formada, Mas fica gravada A efígie bendita. A obra, bem ou mal, Está terminada. É mais uma estrada Que chega ao final. Na vida, é assim: Na desgraça ou glória, Fracasso ou vitória, Tudo tem seu fim! __________ (*) Classificado em 4° lugar na "Semana da Arte e Cultura da UDF", em 1974. "Grandes Talentos", volume 1, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Litteris,1993, páginas 14-18.