TRISTE BALANÇO
 
 
  foi assim, sempre assim,
  a minha vida inteira
  querendo sentindo
  chorando sorrindo
  gozando gritando
  e sempre, sempre amando
  intensa e desmedidamente...
  desde o hímen roubado
  - esse elo perdido... -
  o elo que liga a gente
  definitivamente
  ao amor e ao prazer,
  ao  dar e receber,
  à generosidade do entregar
  que já não mais pode parar...
 
 
  até chegar ao amor verdadeiro
  com a impressão dolorosa
  de ter-me esperdiçado
  em outros braços...
  de fora ter jogado
  os mais lindos desejos
  os mais ternos abraços
  os mais ardentes beijos.
 
 
  vivi e curti e me entreguei
  ao amor tão novo e diferente.
  coisa estranha,
  uma vontade quase inconsciente
  de buscar por um porto seguro,
  que nunca tive
  e que nunca fez falta...
  talvez o efeito solidão
  que se tornou insuportável
  na madrugada alta
  da noite mal dormida.
  talvez saudade da alegria
  que enfeitava meu dia.
 
 
  e liberei o grito
  surdo e desesperado
  do sonho represado
  que atingiu o infinito.
  grito do amor que não sufoca
  só glorifica,
  alimentado pela ternura
  e pela entrega
  que sempre gratifica.
 
 
  mas todo espaço de ternura
  foi cruelmente invadido
  pelo silêncio indefinido,
  pela dor sem medida
  - lucidez ou loucura?
 
 
  sigo hoje mutilada
  sem poder reaver
  os pedaços de mim
  que ficaram na estrada.
  e resta a vela que se finda
  na chama que estrebucha ainda
  quase a se apagar
  no medo novo e insano de amar.
 
 
  e, neste triste balanço,
  descubro que, talvez,
  se hoje recomeçasse,
  faria tudo outra vez...
 
 
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