Vida, penumbra que me resta
Pungente calafrio
Corrói a testa
Sei bem, estás em festa
De minha escuridão não quer saber
Os copos são cristais em sinfonia
Caindo lentamente no assoalho
Fragmentos refletindo a pouca luz
Contrastando com a desfaçatez
Que à porta me conduz
Mal posso suspeitar
Para quem agora falas
Se declaras um amor
Ou, inconsútil, choras
Minha jaqueta desbotada
Azul que tu desconheces
De minhas roupas te esqueceste
Assim como de meus beijos
Onde, sob o mel, mil vezes morreste
O silêncio ecoa desumano
Agarrando-se nas barras de minha calça
Rastreando meu caminho mundano
Sem rumo, um destino profano
Certamente suburbano
É o meu fim, se houver um
Bate a panela o mendigo
Clamando por um punhado de arroz
Abraça, depois, a sua amada
São eles dois
Estático, perduro
O casal observando
Na sarjeta me acomodo
Um abraço solicito
Para um “não” ganhar depois
Qual será teu paradeiro
Se existes, se voltarás
Maio ou janeiro
Até quando sofrerei
Nesta vida que se faz
Eterno instante derradeiro?
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