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Poesias-->recordações 10 -- 16/07/2004 - 00:14 (maria da graça ferraz) |
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recordações 10
mdagraça ferraz
Meu avô morrera
Eu nunca tinha visto
um morto
A sala na penumbra
As pessoas de negro
iguais corvos
O pranto. A reza.
O morto. Meu avô.
Fui até seu rosto
Ele tinha um rosto morto
num corpo morto
numa roupa morta
Era muito morto
Morto demais
que nem olho mexia
O pranto. A reza.
As pessoas de negro
iguais corvos
Os pêsames. As lástimas.
O morto. Meu avô.
Tinha um cabelo morto
boca morta
mãos mortas
O morto era muito morto
Nem um olho tremia
Mais morto
do que uma poltrona
do que um peixe
do que uma poça de água
A imobilidade
daquele tarde
que não compreendia
Todos choravam
saudades
do morto - do morto
que não se mexia
E no meio do frio,
algo invisível,
com carinho,
afagava meu pés-
quietinhos imóveis
nas quinze para três
E o sapato do morto
juntos, para cima,
na meia- noite
Ele se fechara
Eu me abria
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