A lua vestia-se de noite a beirar igarapé,
Sob a égide de um silêncio calado, sob a brisa de uma oportunidade já falada,índia banhava-se nas águas escuras do rio Guamá.Enquanto vitória-régia orava ao deus das horas, enquanto menina, mulher, virgem se batizava.
A flor mururé, que vagava a espreita fora colhida pelas mãos infieis desse mulato, cujo silêncio ousou perturbar.E delatado pelo pipilar amargo do pássaro errante,encontrou nos olhos assustados da índia, os verbos da palavra a paixão a primeira vista.
Foi amor adolescente, como a corrente d água em dia de chuva, como a luz saindo do nirvana, na escuridão.
Onde se formaram as mãos, onde se calcificou raiz,
Onde também se sofreu frio e calor, onde a ferros e a fogo se forjou o amor.E nem o tempo, nem o vento...tão pouco a distância, quando ele resolveu partir, deixou de vez a sensatez daquela loucura.
Anos se passaram,
Filhos se formaram na selva,
O amante que já era pai, foi ao infinito, mas aquele amor, aquele bendito...nunca mais o coração da índia deixou.
Hoje entre as páginas da juventude vencida...
Seus cabelos brancos, seus olhos na paz merecida, seu coração pela dor ferida em harmonia deita as suas lágrimas no mesmo rio, que a revelou àquele senhor das matas. |