A soma de todas as letras resulta em número
desconhecido e perpétuo, longínquo e frágil.
Nunca ninguém soube respoder, sem divergir
de outro alguém, que sinal completa o que falta.
Nos bancos dos ônibus, nas bibliotecas, divãs,
duas pessoas conversam.; amigos, eles se amam.
Eles se perguntam sobre o que compõe a pedra
e a fumaça na veia do trovão que causa o frio.
O ventre gela, e os olhos se concentram muito.;
um, nela é vida.; outro, nele, de querer bem vela.
É minério, é vegetal, parte de animal, qual coisa
de explosão do universo, a formação da nossa vida.
Difícil à vida humana é compreender dentro de nós
o que sai para a parte em amado ser pouco nos dar.
O que produz o corpo além da sujeira, dos excessos,
dos líquidos, e matéria de vida, é essência diferente.
O amor é coisa de procurar aos pertos, aos solitários,
nunca aos que não podem ver os olhos, que estes morrem.
Já de quem sigo num caminho perpétuo desejo saber
se a existência é a mesma em músculo e em comoção.
E só isso quero concluir da vida: se é da mesma veia,
de mesma sorte, o que junta os ossos e junta os amantes.
Ainda que eu não sejamos da mesma raíz de números,
e nomes, pode-se calcular, pode-se chamar, até a morte....
Quando se não mais existe talvez se perca a lógica mais
indizível do amor: como se concretiza unir os amados
– Uns dizem que são sorrisos, outros dizem dos toques,
e lembram outros dos medos, afora os olhos, e medos...
Há quem lembre da pura declaração, da loucura, e mesmo
faça parte da tristeza e da morte o sentir de amor o outro –
Mas sentir não basta, faça a que força seja seu pertencer,
um amor se encontra amor no outro quando neste assim dito.
E assim percebido, e feito claramente, e provocado por
quê não se vê, é sentido num beijo pela matéria da boca.
E a matéria da boca sente a matéria dos braços, e destes
a das pernas, dos pés, e a matéria dos pés, a matéria dos cios.
E ainda haja, depois de tudo isso mais vontade de amar
matéria de cabelos, troncos, colos e ventres – é amor se assim for.
Isso é o que faz de mesma parecença e composição
corpo e emoção, produtor e produção, palavra e amor.
E só, descoberta de que o que move os braços ao ser
amado move o amor seu aos braços do ser amante.
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