Reflexão:
“Só o passado nos dirá quem realmente somos”
O tempo mata. O tempo mata o querer
e mata a fúria, a lentidão, e o espaço,
o tempo mata os números, o tempo
mata a saudade, mata o que é constante.
O tempo mata o que é comum e o que
não pode fugir do caos de Deus, o tempo
mata o que é nosso em potencial, e os dias,
e os encontros, e o futuro. O tempo mata.
E morrem o humor, o jardim com paisagens,
gente passando, o quadro figurando menina,
e morrem as danças, os senhores, com suas
senhoras, com suas crianças. O tempo mata.
Morre mais. Morrem as visitas diárias, festas e
eu.; eu morro mais – há quem morra menos? –
eu mato todas as coisas.; e levo comigo
amores, horas, os dias comigo... e mato você...
A falsidade não é o passado, mas o presente.
É tempo de transformar-se, e o que os olhos
viram, e compreenderam, e o que os olhos
queimaram, morreu. Os velhos viveram como nós vivemos.
A matéria das estrelas caiu no fôlego humano.
O brilho que vemos é de tanto tempo, que elas
também morrem, e a luz fica aos muitos tempos,
como há as pessoas. Os velhos morreram como nós morreremos.
E juntou-se tudo, dentro do círculo o frio,
e o calor.; missão, lágrimas, sentires.;
uniu-se o jardim à gente, e as fotografias,
nossas mortes, pedidos, procuras, nossas
danças e acasos.; filhos esposas, maridos.
A morte é a solidão.
A saudade é ver o presente.
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