|
| LEGENDAS |
| (
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
| (
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
| Poesias-->Canção do Natal -- 21/01/2000 - 09:34 (sidney pires) |
|
|
| |
Ainda a pouco houvera chovido
E o céu cinzento, um chão molhado,
Viram descer pela Rua das Monções
Antes que houvesse o entardecer
Dois guris de olhar assustado
E coração de aventureiro
“Por favor, seu moço!
Tem nozes, castanhas ou avelãs?
Não?! Obrigado”
Naquela época éramos dois baixotes
Eu devia ter nove, uns oito talvez meu irmão,
E entrávamos em todo lugar
Com aparência de empório, mercadinho ou
Bar, e logo vinha o refrão:
“Por favor, seu moço!
Tem nozes, castanhas ou avelãs?
Não?! Obrigado”
A chuva, então, começara a cair novamente
Fina, como acontece de ser fina
A chuva das tardes tristes
E a poesia descia rente às calçadas
Em filetes de água cantante e colorida
Escorrendo junto à dupla animada
“Por favor, seu moço?
Tem castanhas, nozes ou avelãs?
Não?! Obrigado”
E apesar da roupa e os cabelos molhados
Nós não desistimos da empreitada
Não sei se era sonho, encantamento, esperança
Ou essa doidice própria das crianças, enchendo-nos de
Um impulso forte, aquela euforia doce e infantil
De estar descobrindo os segredos do Brasil
“Por favor, seu moço?
Tem castanhas, nozes ou avelãs?
Não?! Obrigado”
E de obrigado em obrigado
Com o olhar recatado, ao som de chinelos molhados,
Nós seguimos sempre andando
Até conquistarmos o fim da rua
Onde a poesia morria contarolando
Nas frestas de um bueiro enferrujado
Que tempos difíceis eram aqueles
Seu moço!
Somente agora é que eu percebo
Volvemos então para casa
De alma lavada e cansados quase nada
Sem as castanhas, as nozes e as avelãs
Mas no coração não cabia agrura
Somente habitava a mágica ventura, de aprender
Ponta a ponta toda aquela imensa rua
Lembro, ainda, como se fora hoje
O olhar doce de mãe, terno e admirado,
Fitando um par de mini-heróis ensopados
Pois eram difíceis, difíceis mesmo aqueles tempos
O meu pai desempregado, o dinheiro minguando e
A coisa ficando quase preta
Mas a poesia nascia com o vento
Descia no lombo do tempo e cantarolava
Colorindo até as sarjetas
Hoje em dia lá em casa temos de tudo
Nozes, castanhas, avelãs
Só vendo o absurdo!
Mas são outros os natais, outra Monções
Aos olhos de um mesmo menino aventureiro
E ele segue pela chuva, que o beija molhado
Esperançoso junto ao vento, de passo ligeiro
À procura de algum som, primícias de poesia
Cantarolando nas frestas de qualquer bueiro
Mas que nada!
Sumiu a emoção, morreu a aventura
Não há poesia nos bons tempos!
E andando de um jeito arrastado
O rosto molhado e gelado
Um medo tremendo de gripe
Volto para a casa cansado e sisudo
Sob o olhar triste dos bueiros
Que me fitam mudos.
|
|