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Poesias-->O POETA MORREU... -- 18/01/2000 - 13:18 (Eduardo Gomes) |
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O poeta morreu...
Não havia noite,
nem brisa, nem fonte,
nem formas havia...
Morreu...
Não havia dia,
nem montes, nem picos,
nem tardes,
não...
Não havia rosas,
nem ramalhetes,
nem a quem os mandar,
se eles estavam murchos,
com a morte prematura e incerta...
do pobre poeta.
Morreu...
Não era manhã,
não era meia noite
ou zero e um, nem madrugada.
Não havia suicídios apaixonados,
nem prantos magoados,
nem face taciturna,
nem afagos infantis,
nem apito de trem,
nem sorvete de cereja,
nem espuma de cerveja,...
pobre poeta...
O poeta morreu...
Quem passará o tempo no hangar,
nesses momentos sublimes de paz,
apreciando os deleites do mar
beijando a proa de cais?...
Quem, durando a madrugada,
virá bater à minha porta?...
Quem irá ressuscitar
do relógio as horas mortas?...
Se morreu...
o meu amigo morreu.
Pobre poeta...
O poeta morreu,
não havia graça,
não levou seu amuleto,
talvez esquecido na praça
ou na calçada dum coreto...
Não havia samba,
nem suor frio,
não havia um bamba
que tinisse um assobio
a relembrar as velhas canções...
Não havia guerra
a devastar grandes cidades,
era só paz na terra
aos homens de boa vontade...
Pobre poeta...
Não váis...
Fique mais um pouco,
não deveria de haver
este meu sorriso amarelo,
não deveria haver
esta súplica na tua partida,
só levarei comigo
o que de ti ficou de belo,
só levarei boas experiências
para os campos da minha vida...
O poeta morreu...
Não havia horas vagas,
nem tempo para pranto,
nem amigos presente,
nem parcas homenagens.;
Porque esquecestes da gente,
nesta súbita viagem?...
Lembro-me...
nosso instinto de louco,
nossa tenaz sagacidade.
Nossas rondas pelo bairro,
pela cidade.
As cidades são tantas!...
Os poetas é que são poucos.
Pobre poeta...
O poeta morreu...
Não era comédia,
não havia drama,
não eram anedotas nédias,
nem jazia numa cama,
não foi ao cinema,
não foi à disneylândia,
nem mesmo em miracema,
nem morreu na ceilândia.
O poeta morreu...
Não levou os rascunhos que escrevia,
nem a cadeira na qual pernoitava,
nem a máquina de datilografia,
que um letreiro ostentava,
O POETA MORREU. |
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