LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->Louredo, lembranças -- 14/10/2003 - 14:34 (MARIA PETRONILHO) |
|
|
| |
Relembro as flores do linho
À altura dos meus olhos.
A mó de granito com um buraco
Onde o milho ia gemendo
Deitado punhado a punhado
Rodava-se a mó movendo
Um pau negro de tão velho.
Sobre a eterna lareira
Nos seus três pés as panelas
Como cozinheiras prenhas
Eternamente ocupadas.
Dos confins da chaminé
Um caldeiro enfarruscado
Fervia eternos mistérios
Sobre achas afogueadas.
Relembro ainda a cadeira
Onde a minha mãe-menina
Jazia na flor da vida.
E as estevas de sete chagas
Cada pinta uma ferida
Que Jesus Cristo lançara
Nas flores em sua memória.
Eu, pequenina e bravia
Corria livre e afoita
Pela negra penedia
Nos musgos escorregava
Pelas cavernas entrava.
Do peitoril da janela
Que a cal azul esquadrava,
No longe se recortava
Tom sobre tom a montanha
Até à raia de Espanha.
Dos dois lados da janela
Dos aros de ferro pendia
De cravos rubra cascata
Que os ares embalsamava.
Meu fantástico privado
Desabrigado e amargo
A morte de foice em riste
Passou e levou quanto havia
Deixando-me só a memória
Dessa casa onde eu criança
Nem sabia que o era
Que nunca alguém lembrava.
(Do livro de memórias "Outras Palavras") |
|