EU*
Eu não vi o floco solitário de nuvem cruzar o azul.
Não tenho tempo. O mundo me persegue
e preciso encontrar as cifras e os signos,
preciso encontrar as chaves de todas as coisas.
Mas como? Se não acho a chave de mim mesmo!
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Creio que em ti os espelhos se estilhaçam:
tu és a flor onde me escondo
e longe de ti os caminhos são tão ermos...
As trombetas clamam: tu e eu somos um,
vamos, então, ver as pedras apascentarem a eternidade,
mas saiba, tu és eu e eu sou tu:
– não há lugar para dois eus em minha morada.
* Este poema foi feito na Cerca de Pedra, numa noite cheia de estrelas, pelos poetas Li Po, José Inácio Vieira de Melo, Toukaram, Novalis, Abel Silva, Cecília Meireles, Emily Dickinson, Florbela Espanca, Kabir, Hildeberto Barbosa Filho e Djalal ud-Din Rumi, que lá estavam todos presentes.
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