Usina de Letras
Usina de Letras
37 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63159 )
Cartas ( 21349)
Contos (13300)
Cordel (10357)
Crônicas (22578)
Discursos (3248)
Ensaios - (10656)
Erótico (13589)
Frases (51649)
Humor (20171)
Infantil (5588)
Infanto Juvenil (4932)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141277)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6349)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->PAPAI MATOU MAMÃE -- 24/09/2003 - 13:24 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PAPAI MATOU MAMÃE





Minha infância foi ofendida

Por um crime que me marcou.

Minha mãe foi assassinada

Pelo homem que mais a amou.

Não pude entender ao certo

Por que tudo aconteceu,

Mas chorei tanto ao saber

Que minha mamãe morreu.

Vi o meu pai agarrado

Ao seu pescoço, furioso.

Gritei para que a soltasse,

Enfrentei seu olhar raivoso.

Ele por fim a soltou,

Deixou-a cair sobre a cama.

Sua boca espumava, e os olhos,

Seus lindos olhos, saltavam.

Chorei, como eu chorei,

E não queria deixa-la.

Papai foi preso na hora,

Depois vieram leva-la.

Vovó então cuidou de mim,

Mas em seu rosto eu via

Que algo era mal-resolvido,

Para sempre ela me odiaria.

Dizia que a cada dia,

Com meu pai, que estava preso,

Mais e mais eu me parecia.

O tempo passava arrastado,

E minha dor anestesiava.

O frio lar que me abrigava,

Trazia-me acorrentado.

Aquele homem que me privara

Da família, da minha mãe,

Eu não conseguia odiar.

E a culpa que sobre ele pendia,

Para mim era transferida

Por quem decidiu me criar.

Alguma coisa em mim mudava,

Agora já adolescente,

À minha avó eu dedicava

Uma antipatia crescente.

Queria visitar meu pai,

Perguntar-lhe apenas: - Porque?

Mas minha avó impedia.

-É um monstro, que mais quer saber?

Um dia, porém a notícia

Que a deixou mais contente:

Morreu meu pai na cadeia,

Foi dado como indigente.

Sempre estivera só,

E assim permaneci.

Quando a doença a levou,

Deus, como agradeci.

Mas o tempo que levou,

Minhas dores e esperanças,

Tristezas e alegrias,

Do tempo que não fui criança,

Trazia ao meu vazio,

Toneladas de incertezas.

Meu ser era acometido

Por toda sorte de torpezas.

Cheguei ao fundo do poço,

Somente as sombras eu via:

Mamãe ali, estrangulada.

Papai na cela vazia.

E a avó que eu amara,

Mas que odiava me ver,

Por achar-me parecido

Com o homem que a fez sofrer.

Meus fantasmas não me deixam

Um minuto de sossego e paz,

Nem se conseguiria

Lograr tal sorte, jamais.

Até que enfim decidi

Um fim a tudo isto dar,

Nada mais vou conseguir

Pois resolvi me matar.

Numa definitiva noite,

Com uma arma engatilhada,

Segura em minha mão trêmula,

Enquanto olhava para o nada,

Vislumbrei sombras distantes.

A cadeira de balanço,

Da minha velha avó,

Novamente balouçava,

Mas não estava só.

Sua sombra, feições sofridas,

Me olhava com pesar,

Enquanto sua voz eu ouvia,

Misturada no pranto, falar:

- Perdão.

Meu coração atingido,

Por um petardo mais duro

Que uma bala de chumbo,

Tombei ali no escuro.

Lágrimas me socorreram,

Quando me aproximei,

Da sombra que me chamava,

Em seu regaço, deitei.

Uma lembrança antiga,

Uma velha dor de criança,

Minha vovó tão querida,

No teu colo me balança.

Senti que a perdoava,

E me perdoava também,

Mesmo sem dizer palavra,

Deixei-a partir em paz.

Olhei a arma outra vez,

E os pensamentos malditos,

De covardia e de medo

Que atormentam meu espírito,

Vieram tentar-me de novo.

Foi quando outra sombra

Se fez presente comigo,

Uma cela de cadeia

Guardava meu primeiro amigo.

Tanto amargor eu senti

Por ver meu pai suplicando

Meu perdão, meu amor,

De meu coração sangrando.

Detive-me no ódio outra vez,

Naquela sala vazia e escura.

Mas não pude ignorar

As lembranças da ancestral ternura.

Como pode aquele homem,

Que um dia fora um herói,

Destruir minha vida inteira,

De minha mãe sendo o algoz?

Mas eu já não era o mesmo,

Talvez, por desejar morrer,

Olhei seus olhos sem medo,

Escutei o que tinha a dizer:

- Perdão.

Não podia acreditar,

Como seria possível

Agora eu perdoar

Aquele crime terrível.

Mas o sorrateiro amor,

Acha brechas e se instala

Nos peitos mais doloridos

E ao orgulho ele fala.

Diz que de nada adianta

A persistência no ódio,

Pois só o amor alavanca

O vencedor para pódio.

E aos poucos foi amolecendo,

Deixando o amor falar,

Até perdoar o meu pai,

Mesmo sem querer lhe falar.

Vi um sorriso tristonho desenhar-se,

Em seu rosto envelhecido,

Como deveria ser quando morreu,

Triste, só e esquecido.

Mais uma sombra se vai,

Desaparece a lembrança,

E agora minha arma cai

Das mãos de uma criança.

Um disparo, um som seco,

Um clarão que logo finda,

Que não vejo vir por trás

Mais uma sombra perdida.

Uma mão carinhosa me toca,

E uma voz doce me consola,

Minha mamãe está de volta,

Com ternura ela me olha.

Em sua mão ela segura

Minha pequenina mão,

E me leva cuidadosa,

Para viver em seu coração.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui