Vida que vem, vida que vai,
vida que segue sem volta
como semente de suave revolta
que sonha, frutifica e de madura, cai.
Vida errante que gira sem demora,
vida alada que vivi e já sonhei
— lembranças antigas de um velho rei
ou dos magos celtas da jovem aurora.
Vida que fui antes um sheik no deserto,
albornoz ao vento - forte palmeira
no oásis de Bagdad, Sanah ou Leira.;
Beduíno guerreiro - fui mestre experto.
Noutra vida, fui um chino mandarim,
fui senhor das ciências e da natureza.
Tive brocados de seda, de rara beleza,
Meng-tzu e Bashô foram amigos de mim.
Uma vez fui infeliz, valoroso e nobre cruzado.
Por amor à Cristo, nas portas de Jerusalém
sacrifiquei-me, na esperança de viver no celeste Éden
enquanto cavaleiros aspiravam terrenos ducados.
Avatar de várias e velhas vidas,
não sei se tomo o venenoso cálix
ou poeta - sigo a nova práxi
de curar com vinho minhas feridas.
Nas sombras, se partir na jornada
eterna, voltar devo para novo despertar.
Ou partindo eu na luz, rápido chegar
Irei ao Nirvana, sem mais paradas.
Em minhas vidas, conheci as musas
de todas as épocas: a quente sevilhana,
da judia e da árabe. O beijo da romana
e da gueixa provei, os olhos da lusa.
Não sei mais o que fui ou que serei.
Se nasci fotógrafo, jovem e poeta,
Posso nascer camponês, médico ou profeta.;
louco, inventor, pastor, soldado ou rei.
Minha senda sigo, como peregrino
a esperar chegar meu fatal negro dia.
E assim, novamente, recomeçar eu iria
minha jornada por outros e novos caminhos.
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