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Poesias-->A PARADA -- 26/07/2003 - 15:31 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) |
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Marchem meninos
Com força
Batam os pesinhos
Na cadência do tambor
Ritmo dos coraçõezinhos
Pisem com entusiasmo
Ao som do hino
Que alto repete
Igualdade, fraternidade
Força de pezinhos frágeis
E a vibração gerada
Da meiga ingenuidade
Não é longa a pista
Logo ali há de acabar
Com a fácil ilusão
De sua pouca idade
Nada lhes há de cansar
Toca com fúria a banda
Sopra estrondoso o trombone
Repete o locutor, imponente
Voz grave, insistente
“Suas excelências”
“Suas excelências”
Ergam as cabecinhas
Atenção defronte o palanque
Pra fora as costelinhas
Cantem com garbo, soltem suas vozes
Com a força das inocências
Já vai a pista acabando
Aproveitem. Pois
Que suas excelências
Pra vocês estão olhando.
Ai, quem dera
Por vocês
Estivessem olhando
Fala empolgado o hino
De corações valentes, juvenis
E fere o bumbo com bravura
Os ouvidos infantis
Seus ouvidos sempre abertos
Os deles só aos que emanam
De seus tresloucados egos
Marchem, meus filhos
Tão frágeis, tão firmes
Suas cabecinhas exibam
Ternas carapinhas
Doces cachos dourados
Negros fios crespos
Outros lisos, falhos, ralos
Desencontrados
Num desalinho imaginam
Que ninguém vê, coitados
Sigam, crianças
Não olhem pra traz
Não virem a cabeça
Não olhem pros lados
É isso o que faz
Que imitam os soldados
Mas logo a parada
Já vai terminar
E o locutor exaltado
Não para, não cansa
Austero a gritar
Suas excelências
Suas eminências
Suas reverências
Suas impotências
Suas indecências
Suas reticências
Arborescências
Suas ausências
Acreditem, meninos
Enquanto podem
Acreditem, cantem alto, pisem
Com a força jovem
Acreditem que é seu o chão
Acreditem na letra do hino
O bumbo, o tambor, o trombone
No ritmo de um coração
Depressa, acreditem
Pois que a pista está no fim
As camisas agora encardidas
As meias brancas exaustas já descem
Ao encontro dos negros sapatos
Que se rendendo vão com a graxa
À poeira do chão
Que os pesinhos levantam com a raça
Que lhes imprimem as finas canelas
Joelhos, furúnculos
Mosquitos se fartaram nelas
E eis que ainda hão de se dobrarem
Depois que o desfile acabar
Depois que todos findarem
Suas excelências se retirarem
Desculpem, mas com certeza
Vocês não serão convidados
A lhes acompanharem
Marchem queridos e nunca se esqueçam
Desse momento glorioso
Dessa marcha envolvente
Apelo vigoroso
Lhes sacode premente
Os coraçõezinhos
Sonhos pequeninos
Eternamente sonhos
Jamais deixarão de ser
Resplandecentes olhinhos
Pálidas boquinhas
Rompem-se em sorrisos
Envolventes, dentinhos corroídos
Entusiasmem-se. Iludam-se
Pobrezinhos
E iludam-me também
Por Deus, me iludam sim
Que pra mim, há muito
O desfile foi ao fim.
Agosto de 2001
Daniel Carrano Albuquerque
e-mai.; notdam@bol.com.br
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