Poema da moça canhota
(para Sandra)
Lá longe para os lados do Pará,
Lá nos pés do rio Amazonas,
Encrespam-se e abocam margens
Águas hórridas da pororoca...
Mas é serena minha lucubração:
Estás imóvel, mas sorris,
Conchas e seixos beijam tua praia,
Águas tórridas fluem teu sonho...
Tu nem me sabes, moça canhota,
No teu sonho de veludo
Sonhas um corcel em que trota
Um mancebo sortudo,
Nesse teu reiterado sonho!
Tu nem me percebes, moça canhota,
Quero te dar umas rosas, mas teu quintal
Tem um rosal e na verga da tua porta
Há uma máscara arlequinal!
Esses tetéus barulhentos lá fora,
Nem sei se são tetéus essas aves farfalhantes,
Mas minha alma está em delírios e ignora
As horas do dia rompantes!
Eu não queria te dizer, moça canhota,
Mas esse teu rosto moreno, esse teu sorriso,
Essas tuas ancas e sensuais pernas tortas
Me botam entre o inferno e o paraíso!
|