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Poesias-->A Absolvição do Poeta -- 26/06/2003 - 12:28 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Epígrafe:



"Meia Noite"



"Se a noite não tem fundo

O mar perde o valor

Opaco é o fim do mundo

Pra qualquer navegador

Que perde o oriente

E entra em espirais

E topa pela frente um contingente

Que ele já deixou pra trás

Os soluços dobram tão iguais

Seus rivais, seus irmãos

Seu navio carregado de ideais

Que foram escorregando feito grãos

As estrelas que não voltam nunca mais

E um oceano pra lavar as mãos!"



Chico Buarque e Edu Lobo



Dedicatória:



A Rita levou (...) uma imagem de

São Francisco e um bom disco de Noel.



Chico Buarque de Hollanda



O Poema:



Poeta, antes de absolver-te

convido-o ao banquete:

Natália pôs a mesa,

Platão quem deu a idéia

e Adriana a sobremesa:

Bacalhau (aromatizado)

a Pau Brasil.

Poeta heteronomizado,

quanto ao mar ou ao Gil,

haveria em ti outro escuro anil?

Carrossel, pipa, língua de sogra,

pepino.

Dentes de sabre que te batem

os sinos, de antes banguelas

miúdas criaturas.



Poeta, antes de te lançar

à rua da Angustura e de te livrar

para sempre de teus anéis,

visite Pasárgada!

Leve o esteio da cumeeira,

os bacharéis da repartição!

Disseram que tu parecias

com o outro anfitrião (Drummond).

Li até uma tua foto descendo

de um bonde em Lisboa.



Poeta, antes de te deixar à toa,

não sei por onde,

visita Chico Estandarte!

Baste!?

Necas!

Na volta de Pasárgada é so pegar

um atalho numa carta de baralho.

O coringa disfarçado na moringa

do espantalho.

Daí, terias credenciais para

não ser mais o que jamais não

serias.

Utopias?

És alérgico?

Então chama aquela pessoa

que é gente boa

e diga a ele que te detenha.

A mala com as escovas,

loção de barba, chicletes

e cortador de unhas.

Nas fronhas que guardas no bolso

teu último sono.



Poeta, antes de deixar-te

ao abandono,

visita o Maracatu Paulistano!

Sim, a impressão é meio

verde e rosa, próxima

parada Rio de Janeiro.

Com boa vontade o Redentor te abraça.



Poeta, antes de te deixar só

no Picadeiro,

perca o medo do escuro,

e se equilibre no muro!

Um pé na Ilha e outro

na Península de Creta.

Ah... Visita Florbela,

uma borboleta amarela

e Cecília na cidadela

paraninfa.



Poeta, antes que te acabe

a tinta, eu te absolvo:

Afoga-te numa panela de

refogar Caetanos.



Em



(...)



:)

Vai escrever a Absolvição, agora?

Olha esta, que linda:



Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,

Espécie de acessório ou sobressalente próprio,

Arredores irregulares da minha emoção sincera,

Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.

Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.

Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,

Como de um sonho formado sobre realidades mistas,

De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,

Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,

Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,

De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,

Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,

De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,

De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,

De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,

Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,

De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo ?

A impressão de pão com manteiga e brinquedos

De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,

De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,

Num ver chover com som lá fora

E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,

O emissário sem carta nem credenciais,

O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato(*) de outro,

A quem tinem as campainhas da cabeça

Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada

Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...



Álvaro de Campos



(*) terno, roupa

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