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| Poesias-->apenas isto -- 10/04/2003 - 23:41 (maria da graça ferraz) |
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Apenas isto
gracia plena
E o sábio disse-me, com voz enfermiça:
- Busca a verdade, jovem peregrina?
Pois não imaginas que ela esteja tão perto de ti,
na tua casa, ele exemplificou a sorrir
-Em casa?Onde, mestre? Diga-me ,eu insisti
sedenta, ávida, olhos alongados de pescador
-A verdade jamais se esconde como o amor,
ele explicou, peito arfante e cansado,
Ela está em tua casa. Vá e procura-a
-Onde? Abaixo do tapete da sala?
Atrás da cortina da janela que dá na rua?
Dentro do baú dos antepassados?
Nos livros? Nos perfumes? Em uma palavra?
Diga-me, mestre. Esta espera me é dolorosa
A angústia contrai o coração pela demora
-Está em tua casa. Por todos os lados.
A verdade preenche a tudo e se transborda
-Já sei. No bolso de meu vestido?
Dentro do camafeu? No meu sorriso?
Na flor que cresce no jarro mais bonito?
-Também.Também. Ele respondeu impaciente
-Mas como assim? Ó meu Deus! Qual
ao menos a direção? Oriente? Ocidente?
Ele,então,sentou-se plácido e soberano,
fitando-me com olhar clemente e disse:
-A verdade é como a poeira fina fininha
que a tudo reveste e que tu limpas,todos os dias,
com afinco, e ainda assim, ela cresce
A verdade? Tu me perguntas.A verdade?
Está nos cantos escondidos. No que tu desprezas.
Está no teu lixo. É o pó. O pó.
-Mestre? Como assim...Pó?
Não estás a brincar comigo?
-É isto ,filha. Apenas isto. Isto só.
E passos arrastados, ele afastou-se,
apoiado sobre seu cajado,
levando no rosto um brilho enigmático.
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