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Poesias-->SOUTAMÉRICA -- 16/03/2003 - 22:29 (JOSE GERALDO MOREIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SOUTAMÉRICA



Na América do Diabo

brilha a lua,

inocente e bela

sem saber que a espreitam

espanhóis e portugueses

somente por brilhar amarela.



Para trazer Deus aos silvícolas

urgem espadas, algemas, arcabuzes

bestas de todos os tipos.

Cortez, Pizarro e outras delas,

com a empunhadura em cruz

das lâminas afiadas

esfolam ouro nas peles que, dígnas,

postaram-se contra a fidalguia esparolada

dos cristãos que movem cruzadas

ocultando ouro na fé, esmeralda e muita prata.



Em busca do Eldorado

devastaram Potosí, Montezuma

Ouro Preto.

Venceu os índios o deslumbro,

não a força ou medo.



A América do demo propiciou,

com sua riqueza,

o requinte das realezas,

que se reerguessem reinos falidos

às custas do negro e do índio.



Contraste que emociona o esteta:

a morenez do índio

o negrume do preto

as pepitas amarelas

que guardava o chão

florindo sobre a terra

riqueza de aluvião.



América, açúcar preparando

ouro.

Negro cativo, índio massacrado,

ouro.

Ouro abrindo as portas do céu expansionista

financiando grandes conquistas.

Acumulado na matriz

gera empresas, centros urbanos

Hércules de potentíssimos neurônios

restando a América do abandono.



A América do inferno

Édem terrestre de outrora

esburacada, vazia, destripada,

assesta seus milhões de famintos

contra a América do sonho

que, herdeira protestante da crueldade cristã espanhola,

Escraviza, dizima, espezinha

impera, destrói e desola.



A América, herdeira de Espanha e Portugal,

ensarilha suas baionetas úmidas

arma seus soldados comerciantes

com desprezo por quem não lhe é igual.



Da América do sacrifício

ouve-se a voz do índio:

‘Pai de todos os pobres, de todos

os miseráveis e desvalidos,

ajudai-me a fugir de Tinta!’



Clama a voz no fundo da mina.

O pai de Todos não escuta clamores,

adormecido no seio Inca.

Mastigando coca, ouvindo tambores,

esqueceu-se dos irmãos da Mita.



‘Pai de todos os tortos, entrevados

e opressados nessa liça,

ajudai-me a fugir da Mina’’

Clama outra voz no céu de Tinta



Túpac Amaru, para falar aos índios,

necessita de língua, perdida em Wacaypata

necessita de sua cabeça, em Tinta

do braço direito, em Tungasuca

do esquerdo, em Carabaya

da perna esquerda, em Santa Rosa

da direita, em Livitaca.

Túpac quer seu tronco

lançado em cinzas no Watanay,

quer ouvir seus filhos, enviados

para o lado direito do Pai.

Amaru quer regressar à vida

para tirar de dentro da Mita

seus irmãos que clamam ajuda

contra a força que os executa.



Túpac Amaru, sentado no chão batido

de uma tribo no olvido das batalhas

chora em Potosi, Zacatecas, Guanajanauto,

Outo Preto, Colque, Porto, Andacaba, Huanchaca.

Cura as feridas gangrenadas

de Atahualpa, do Caribe, dos Maias,

Tenochtitlán, Cajamarca,

Cuzco, Cuauhtémoc, Guatemala.



Observa, com olhos sulfurados,

Colombo, Fernão Cortez, Pedro de Alvarado,

fere, com mágoa, a lembrança de Pizarro.



’Ó Pai de todos os mendigos,

inimigo dos dueños de la tierra,

ajudai-me a fugir dessa América!’

Gane uma voz no sétimo inferno da Mita

com os pulmões endurecidos de sílica



Túpac Amaru, sem lágrimas ou ferocidade,

abre seus braços de morto que dão a única fuga

abrigando, em sua redoma, os irmãos da Mita

que rapidamente ascendem aos céus de Tinta.



Os índios centro-sul americanos

acolhem-se na morte aos braços da liberdade.

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