I
Era fogo. Sonho.
Um beijo ardendo forte
Em meu peito.
Ah, Elisabete. Quantas noites
A Lua deitava e o Sol dormia
Nos meus olhos em brasas . . .
E o azul vaporoso das aras?
Corais de uirapurus e sabiás,
Rouxinóis e canários . . .
Trovão tocava Mendelshon
Em teu celeste, mavioso órgão.
Vestias tu, Elisabete, nuvens
E fios de luares. Níveas cascatas um véu.
A primavera era tua grinalda.
Quão azul era minha felicidade!
Véus pubentes . . . Os vinhos rubros
Banhados de sinos chorosos . . .
Mas sonhos.; acordei.
O Azul escureceu-se em lágrimas.
As aras consumiu-se em sepulcros.
I no longer singer, I cry.
E só os olhos em brasas e úmidos,
Folhas soltas de versos borrados
Em Saudade e melancolia.
Teus beijos.; meus?
Sinos? Bem distante, à noite,
Em algum cemitério.
II
Meu leito. Teu corpo. Nunca.
Desilusão. Morta esperança.
Os versos de Camões à mesa
Recordam-te amargamente.
"Como pude ser tão covarde?!!?"
Desmoronaram-se os palácios.
Meu reino de Alexandre e Napoleão
Em cinzas nos desertos da cárdia.
Torres ebúrneos que, pensei (Meu erro)
Rapunzel de cabelos negros, encerrei-te.
"Como pude ser tão covarde?!!?"
Tu moravas em torres, em palácios,
Castelos de cartas que construi.
Ficavas no claustro deste mosteiro.
Quando livre, entretanto, deixei-te escapar
Como a juventude perdida.
"Como pude ser tão covarde?!!?"
A separação. A saudade.
Flechas negras no coração,
Grito afogado na serenidade.
. . . E Tu eras minha satisfação,
Sonho vermelho de felicidade. Mas
"Como pude ser tão covarde?!!?"
III
Tu eras fada, rosa. (Sol).
Eu sonhava estar junto de ti.
Ouvir a maciez do Arrebol
Enquanto doce dormias entre perfumes azuis.
Uma circunferência doirada no dedo . . .
Aras. Incenso. Véu. Luares. Nada.
IV
Pesadas neblinas pairavam nos sinos . . .
Brumas míticas faziam de ti, Onfale
Em Eurídice. E eu um triste Orfeu.
Onfale, minha Onfale - Era Eurídice eterna.
(Quanto invejo Adônis, Narciso, Endimião . . .
Não tiveram minhas agruras)
Beijos? Nunca! Never more . . .
Amarguras vindas de Piratininga.
Por que? Elisabete, por quê?
Por que fui tão covarde para dizer-te:
" Amo-te, minha flor, minha deusa!"
" I love you, my sweet lady!"
"Io te amo, bella signorina"
" Omni bahat bak, djohar!"
Yo te amo, amada chiquitita!"
"Je t’aime, fleurs de la croix!"
V
Teus olhos são pérolas doces ao luar
Que, olhando contra uma diáfana luz,
Loucuras de verão, triste dor a vogar
Doces sentimentos em mim, em mim produz.
Sei que não era por mim, poeta a sonhar
Por tesouro impossível, ouro que seduz,
Prata, ouro, meu coração a ti adorar,
A ti amar, amálgama de dor e de luz.
Não era por mim, Onfale, este olhar,
Era por outro, vil liliputiano,
A quem teus olhos loucos ficam a chorar.
Teu coração doce, doce tirano insano
Que me faz sorrir e sofrer por ti amar,
Só tinhas olhos para outro, Cristiano.
VI
Ah! Mas nenhuma ninfa aplacará
A dor que rompe no meu peito!
Não serão seios ou vulvas,
Prazeres ou vinhos que te substituirão!
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E a noite, quando a Lua, cansada,
Dormir e carregando teu rútilo séquito,
Sozinho em meu leito,
Meus olhos arderam sarças
E meu coração soluçará teu nome
(Elisabete, Elisabete, Bebeth, Bebete)
Soluçará até quando romper a última fibra…
(E no papiro, a lembrança de meu
Secreto amor resistirá ao tempo,
Conservando a dor de um solitário
apaixonado.)
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