Nas últimas horas os computadores do mundo inteiro, via Internet, reproduzem um texto de Gabriel Garcia Marquez que vive, lúcido e consciente, seus últimos dias de vida, vítima de um câncer linfático.
> > No Brasil, o primeiro a divulgá-lo foi Márcio
> > Moreira Alves, na sua coluna de O Globo. Todos se
> > emocionam com a despedida de Marquez, um instante
> > inesquecível da sensibilidade humana:
> >
> > "Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou
> > uma marionete de trapo e me presenteasse com um
> > pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que
> > penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo.
> > Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo
> > que significam.
> > Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada
> > minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta
> > segundos de luz.
> > Andaria quando os demais parassem, acordaria quando
> > os outros dormem. Escutaria quando os outros
> > falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.
> > Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida,
> > vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo,
> > deixando a descoberto não apenas meu corpo, como
> > minha alma.
> > Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu
> > ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse.
> > Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um
> > poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat
> > seria a serenata que ofereceria à Lua.
> > Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a
> > dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.
> > Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida.
> > Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes -
> > te amo, te amo.
> > Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus
> > favoritos e viveria enamorado do amor.
> > Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao
> > pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem,
> > sem saber que envelhecem quando deixam de se
> > apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas
> > deixaria que aprendesse a voar sozinha. Aos
> > velhos ensinaria que a morte não chega com a
> > velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas
> > aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo
> > mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que
> > a verdadeira felicidade está na forma de subir a
> > escarpa.
> > Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua
> > pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o
> > tem prisioneiro para sempre.
> > Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um
> > outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
> > São tantas as coisas que pude aprender com vocês,
> > mas, finalmente, não poderei servir muito porque
> > quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente