Por quê???
Por quê?
Porque surgir...acontecer...
...se não poderia ser?
Não dei-me conta da invasão, da posse...
...pensei ser dona da situação.
Eram tantos carinhos, sussuros, tantos ensaios...
Tanto amor, deliciosa paixão vivida por antecipação.
E adolesci...fiz-me menina, fui mulher.
Não ouvi, não vi....e fui inteira.
Acreditava que via-me e sentia,na mesma sintonia.
Agarrada a essa ilusão, reinventei um recanto,
aconchegante, íntimo...nosso
Fui instintos, impulsos...e pulsei
Ao som dos seus acordes...tremi e entreguei-me.
Como descrever o que senti?
Como narrar o que vi?
Melhor calar...
Não turvar aquele toque...
...não emudecer aquela frase, murmurada sob o efeito da emoção...
Reter aquele olhar.
Tantos trechos revisados incessantemente na memória...
Tentativa vã de manter, fingindo ser...
Hoje,no reflexo implacável do tempo, relembrar traria dor
ah...essa ânsia.
Essa dor que lateja, dilacera, corrompe...
Esse torpor que se arrasta...levando-me de roldão...
Esse choro contido, o nó na garganta...que asfixia minha alma
Ah...essa dor...
Dor do que não vivi, não vi.
Dor do que não senti, nem transmiti.
Dor do que não toquei...nem dei.
Dor do que não recebi.
Dor de não ser, nem ter.
Dor vazia, murcha...quieta, asfixiada e esquecida.
Dor usada. Abusada.
Dor que chega, se instala e me deixa assim
...rasgada, reduzida a nada
Rose Oliveira
18/10/02 |