NA PAREDE UM RELÓGIO NEGRO DE MADEIRA VELHA QUE INSISTI CONTRA O TEMPO
Aquele insistência heróica do relógio dos anos vinte na parede.
Eu saboto o eixo dele, eu faço tudo que posso para sufocá-lo.
Mas o mísero relógio continua lá, negro de madeira velha.
Fica tocando e tocando a cada quarto de hora.
Marcando passo.
E eu procuro sufocá-lo.
Eu tiro-o do eixo.
Renego o velho relógio.
Renego aquele senhor com suas idéias medíocres.
Esqueço o tempo já contado e marcado,
Existe aqui o conflito entre o tempo que foi e o que virá.
Não sou feliz, não fui feliz hoje, nem fui feliz ontem.
Mas amanhã . . .
Haverá a necessidade de se ajustar o relógio, no tempo certo, entre eu e aquele ponto de ônibus daquela velha cidade, onde eu me despedia daquelas meninas de cochas grossas.
Era frio e o relógio marcava a hora incorretamente.
E eu sábia que era tarde o tempo todo.
Enquanto isso eu lembro do relógio na parede,
Marchando contra o tempo, insistindo contra o tempo.
Esse relógio é que leva tudo bruscamente.
É o rato roendo as cordas do trapézio, e o trapezista brincando sorri.
É o equilíbrio insano do velho bêbado andando de bicicleta aos 79 anos,
Vendendo suas inutilidades para não ser tão pouco.
Será essa vida, só a órbita das 12 casas do velho relógio de madeira negra?
Esse relógio toca sempre as mesmas 24 horas num tom melancólico!