Lá longe, onde a areia move-se por entre os barracos de palhas, que teimam em erguerem-se como fortaleza. sob o luar e a noite trigueira. Soberbos homens avançam na solidão do mar, a lançar as suas redes de pesca, que cruzam em cercas, a seifar impiedosamente as vidas, a seifar as vidas.
Vão em grupos,
Bravos homens.
Assessoram-se de lâmparinas, assessoram-se de coisas, enclausuram-se em seus cascos.
Seguem seus destinos.
E vão,e vão,
E vem, e vem,
Vào rasgando o mar,desafiam o alto mar que não perdoa.
No trajeto contam-se histórias pra passar o tempo e a monotonia. Tomam café e balançam, balançam sem parar.
Mergulham nas trevas,
Tomados pelas águas que altaneiras invadem o convés, apiedam-se das almas, sentem saudades,
Mas seguem apóstolos da fome, seguem enfeitiçados pelo mar.
O mar, ó mar!...Que marulha na escuridão sem treguas, que feri os rochedos sem tempo pra se desculpar.
Aí de quem errar,
aí de quem titubear...Há de pagar, há de pagar diz o mar em suas poesias montadas.Em suas letras musicadas.
Por que o mar não tem fronteiras e o que justifica a vida é a sobrevivência pela luta.
Quando o sol peregrino do oriente, mostra o seu rosto no horizonte, a fome dos homens é vencida com o peixe na polpa a brandar as brasas. E a sede, com a noite mal dormida é aliviada com uma garrafa de pinga, que também os encoraja, quando a lucidez estava absolvendo a loucura.
Os homens sentem arder a pele,
Sentem a água salgada nos lábios rachados,
Sentem a fúria incontrolável do mar,
Sentem a alma desencorajar. E pra não naufragar, dentre tantas ilhas, que avistam, acham por bem ancorar.
Não teimam. Pois o mar está furioso.
Ancoram na ilha das terras álvas,
Onde dançam os Guarás,
Onde brincam as Garças e os Maçaricos. Dividem o risco de pegar nas pedras lisas e a correnteza brava o seu alimento diário.
Ilha, ilha onde em silêncio a brisa soneta por entre as árvores de ajurus, mangueiros, tinteiras, muricizeiros e cipós dos manguezais...
Bem vindo homens,
Bem vindos a terra de lugar nemhum.
Excitados pelos ventos de bonanças, deitam os pés na areia quente.
Erguem barracas de palhas, preparam chibé e com uma restinga de lenha abrem o fogo...
Ora pra comer, ora pra aquecer.
Descansam e dormem, recobram as forças combalidas debaixo de uma chuva, que deita no solo sem maldade, que resfria, que conta a sua história e os eleva ao sono profundo.
Quando a noite abraça aquela estrada, nova lua levanta, eles confabulam e coerentes veem que o mar está calmo.
A saudade é o recado da dor no peito sofrido. E aqueles homens levantam acampamento, carregando suas tralhas.
Salgando os peixes, a caça e as raízes que encontraram embarcam no desejo de volta pra casa.Cujas mulheres, os esperam orando e repousando sobre os pés dos filhos o amor, que ainda sobrevivem da fome. E que nesses inferteis campos urbanos, está esfriando. |