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Poesias-->NEGO ZÉ -- 05/12/2002 - 06:03 (Maria do Carmo Bergamasco) |
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Sem preconceito na especidão da noite, no chão
úmido da senzala, o nego véio, escravo de uma história,
recorda-se do tempo de outrora e fala com tristeza, se
esforça para disfarçar mas sem êxito, acaba por transmitir
na voz trêmula, as dores que já o feriu.
Foi no laço do candango, que tudo começou, neste momento
mas sem conseguir conter o pranto o nego véio chora contando
sua história:
- O pombeiro no mercado negro me vendeu...Me ofendeu...
Indefeso no meio da praça sem qualquer opção, ai
fui batizado de "José". Deixando-me desta forma preso para
sempre no interior da senzala da hipocrisia.
Depois vieram os tumbeiros, com seus grandes navios
negreiros "...CHEIOS DE ZÉ...".
Tinham suas escotilhas lacradas, o clima era de horror.
Morre o negro livre...Nasce o servo ZÉ.
Zé do medo...Zé das fugas...Nego "Zé"
Nesse instante brotam lágrimas que rolam pelo sulcos do
tempo e continua a falar:
- Quando neste chão pisei foi para mourejar no sativo da
cana, que adoçava o café que outros "Zé" plantavam
Muito tempo depois eu soube que aqueles senhores tinham
vindo do nada, para aqui serem reis, governando seus reinos
na mais pura covardia, usando a mão de obra que era minha,
pobre fui, pobre sou, mas rico deixei meu senhor o mesmo que
me punha no tronco que açoitou meus anseios e que com ferro
quente minha pela marcou, feito um animal, até hoje sinto no ar
o cheiro da carne queimada. Pelos sertões, meus irmãos, da agonia
fugiam para os braços dos quilombos tentando aliviar suas dores.
Então o moço que a tudo ouvia, comovido e com os olhos cheios
d água, diz ao velho para se acalmar, que tudo mudou, agora as
coisas são muito diferentes.
No submundo dos escravos de hoje, não há mais preconceito,
moramos todos em confortáveis casa grande perdidos em meio aos
corredores dos morros, hoje vivo amanhã morto entretanto manga
com leite já não fazem mal.As senzalas mudaram... Estão agora
imensamente diferentes. Elas tem até outro nome chamam-se Pavilhão
(9) e estão cheias de "mala". E olha o quanto evoluímos já fomos
escravos, fomos "malaco", miliante, tivemos tantos nomes mas tudo
ficou lá pra trás, somos hoje simplesmente individuo suspeito e
somos vistos bem diferentes até fazemos uns sambas e pagodes lá no
morro, para depois os brancos cantarem dentro de seus próprios palmares.
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Fattoconsumado
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