Minha poética é não ter uma poética.
Minha poética é dialética.
É desejar ser grego, e como grego,
Cantar o Parnaso, O Olimpo e as Musas.
E como os bárbaros, render numa única canção, graças
Para o Pobrezinho de Assis, Nietzsche e as Walquírias.
Como os parnasianos, quero trancar-me
Numa torre de marfim para saltar
Logo depois em prosa medieval e surrealista
Ou no meio das baladas russas à The Beatles.
É sendo Brasileiro, escrever em inglês, francês e latim.;
E sendo universal, cantar as belezas de minha Valença.
Minha poética é ser livre com meus versos.
É acordar meia-noite, romanticamente embriagado,
Escrever um soneto renascentista ao Raio Laser,
Ou versejar concretamente sobre Ovídio e Tróia.
É poder voar nas asas de Pégaso e do Condor
Para falar, dentro de um poema, do socialismo,
Do erotismo e da ameixa podre na geladeira.
É verter uma torrente de metonímias macabras,
E anáforas, e polissíndetos e hipérbatos.
Cometer todos os barbarismos de sintaxe e expressão
–OS impossíveis, os impensáveis e (principalmente) os convencionais.
Minha poética gosta de glosar os temas de Shakespeare
Com métrica mandarim–tupinambá,
Ou escrever ditirambos para Dioniso em língua vulgar,
Aniquilar todas as regras de um soneto tedesco
E ser fiel as normas de um soneto alemão.
É ser urbano e provinciano.; rural e cosmopolita.;
Inspirado, ingênuo e estúpido com meus versos.
Minha poética é poder escrever meus versos, e nada mais…
|