Pesa-te sobre o corpo o alvorecer da vida
E sofres incessante a dor da experiência,
Mas tudo o que te resta aquém da tua partida
Está no que pudeste assimilar da essência.
Os anos se marcaram em tua face triste
E servem de fanal à luta contra o fim.
Agora, que te vejo em solidão, pediste
Um pouco de atenção e proteção a mim.
Teus passos já são lentos e o falar sentido,
Teu corpo claudicante e o teu olhar choroso,
Tuas mãos já tão cansadas e o teu ser sofrido,
Teu coração sem paz e o teu semblante idoso.
Não penses em partir para deixar-me só,
Entregue à minha sorte e ao meu destino vão.
O espírito é que parte e a carne volta ao pó,
Mas aqui me depara o horror da solidão.
Da Terra se te fores e eu não vir a hora,
Não temas e não sofras o não ter vivido,
Que a vida não se acaba, amargurada embora,
Que um dia nos veremos, ao já ter partido.
Feira, 20 de junho de 1999. |