NÊNIA
Todo dia, quando acordo,
eu saúdo a consciência,
a rotina sem transtorno,
da janela a vista extensa.;
mas aí uma dor se adensa
ao lembrar que te perdi.
Muitas noites, quando deito
no travesseiro o cansaço,
imagino-te no leito
distante de um outro espaço.;
e as madrugadas passo
lembrando que te perdi.
Minha vida - uma grande espera,
uma estação no inferno -,
verão deuses, homens, feras,
e quem mais quiser: o inverno
que vivo não é eterno
(meu amar eu não perdi).
Meu vazio tem um centro:
tua ausência, o sem-sentido
fora do tempo, e dentro
do futuro mais antigo.;
o abandono do abrigo -
esquecer que te perdi. |