Pintar seu próprio retrato, mirando a si mesma para esse fim. num espelho convexo, sombreando, iluminando, ajustando, amando... Então vou torneando, principalmente seu reflexo, do qual teu retrato é o reflexo em segundo grau. E desviando-se suavemente, como a proteger, como poeta e artista que sou, num movimento apoiando o seu rosto, flutua para cá e para lá em minhas mãos, mas que bom ! ... A hora do dia, a densidade da luz, aderindo à face, conserva-a vívida e intacta em onda recorrente, parece que nunca fica doente. A alma tem de ficar onde está, embora inquieta, ouvindo pingos de chuva, o suspiros das folhas das árvores lá fora, a sua imagem nesta tela, projetada, pintada, emuldurada... O segredo é óbvio demais, faz pungir de compaixão, e lágrimas quentes que sái, que a alma não é alma, é amor que cabe nas palmas das mãos. Teu gesto que não é abraço nem advertência, mas que contém algo de ambos em pura. A poesia é canção que no coração se espalma, a espargir doce ilusão, qual perfume dentro de mim. -José Angelo Cardoso.-Poeta, contista, artista plástico. Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.