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 | Poesias-->LINDA -- 28/06/2000 - 10:11 (João Ferreira)  | 
	
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  LINDA
 
 
 
 
 
 
  Graciosa e desperta
  Desceste do espaço cósmico
  Declamando versos
 
 
  Tudo o que recitavas saía vivo
  Em catadupas
  Corrido e deslumbrante
  De teus lábios móveis
 
 
  Teu sorriso os versos acolhia
  E a alegria que espalhavas
  Os tornava mais belos ainda
 
 
  Eles te acompanhavam lúcidos
  Metafísicos como palavras talhadas
  Pelo escopo de Fídias o artista do cinzel
 
 
  Estático e absorto
  Olhava a tua aparição vocal e alada
  Na juventude dos teus lábios
  Da tua voz e dos teus dentes
 
 
  Sorrias como quem está feliz e possuída
  Como rainha coroada
  Com deslumbramento e vassalos na festa da corte
 
 
  A noite cobria a rua e o neon refletia o palor de teu rosto
  Mas tu insistias no teu noivado com esses versos inspirados
  Que dizias como uma menina meiga na igreja
  Desfiando um rosário de orações
 
 
  Oh a diferença entre o silêncio pesado e a voz
  De um sabiá cantando na manhã fresca do vale
  À beira de uma sombra verde e de um regato
  Correndo no areal límpido da água descida da montanha
 
 
  Eras a menininha meiga e doce
  Estendendo a memória até aos arcanos da alta poesia
  E tornando estupefactos os ouvintes que estranhavam
  A tua milagrosa revelação
 
 
  No auditório era eu o olhar felino
  Da memória incarnada
  Dirigido aos teus olhos iluminados
  E à tua boca ritualizada na declamação profunda
 
 
  Segui-te suspenso nos movimentos jovens
  E na graça esplendente de teu rosto transformado
 
 
  Vi-te como deusa olímpica Atena-Minerva
  Fazendo brotar palavras douradas e sacudidas dos meandros
  Admirei o apadrinhamento que fizeste de Pessoa, De Caeiro e de Drummond
  Mas quem desfilava ali nas palavras raras eras tu
  Porque nos poetas aparecias como criatura viva
  Que gerava outro texto mais sonoro e arrebatador
  Do que o primeiro
 
 
  Eu te viosnei atento e maravilhado
  Como se na tua voz e no teu ser
  Um violino de cordas avassaladoras houvesse sido instalado
 
 
  Foi um espectáculo seleto
  De estação
  Tão espontâneo como se tivesse nascido das nuvens brancas
  De um Olimpo cheio de dádivas e de beleza
  Com mensagens largas para uma humanidade ofegante
 
 
  A descida do pano do palco encerrou a apresentação
  E a interpretação
 
 
  Bati palmas e pedi bis
  E pouco resignado recolhi ao meu castelo poético
  Cheio de certezas
  Sendo a maior aquela que me garantiu
  Que tu eras a poesia
  Que Pessoa não criou
  E que gostaria de ter criado.
 
 
 
 
 
 
  Jan Muá
  Brasília, 27 de junho de 1995  |  
 
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