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Poesias-->TROPEIRO -- 25/06/2000 - 01:39 (João Ferreira) |
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TROPEIRO
Ainda não sei bem quem és
Mas gostaria de ver teu rosto
Na entre-sombra de teu vulto
Ainda não sei onde moras
Mas gostaria de ver teu palácio
Junto aos ipês do cerrado cultivado
Ainda não sei como caminhas
Mas gostaria de acompanhar-te
Como tropeiro
Ao lado do teu cavalo branco
Ainda não ouvi a tua vioz
Mas teu mistério já me tenta
No interlúdio de vozes e de sombras
Minha voz já tem melodia
Minha poesia já tem ritmo
Minha linguagem já tem sentido
Meu berro ainda tem vestígios metafísicos
Para impressionar a boiada selvagem
Que não reage a ele
Meu berro é firme e estremece o muro
E nem por isso ele convence
Todos os bichos do curral
Mas é um berro de gente
Berro com cordas na garganta
E som saindo pelas narinas prenhes
Sei que não estou sozinho
-Ninguém está sozinho-
Nós estamos viajando juntos
À ilharga de tantos
No cerrado que corre até ao Araguaia
Onde praias claras proporcionam outros berros
Conosco o amor viaja também
De rosto coberto
À espera do arco-íris e da festa ritual
Na chegada do sol da madrugada
Ainda não sei onde moras
Mas sei que moras comigo
Na sombra e no sonho
Não sei como caminhas
Mas sei que caminhas comigo
Tateando
Até encontrares minha mão.
Jan Muá
Brasília 1982 |
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