O poeta é um lobisomem solitário
Que vaga pelas sesmarias desertas
Em noite de tempestades e fagulhas.
Tuas garras devoram as entranhas da terra
A procura de um pouso e de uma lua.
Teus versos são tua fome canina,
Tua poesia, a ânsia pela glória.
Tu edificas paulatinamente teus livros
Passo a passo para saciar teu ventre.
E cada vez mais a glória foge
Tantalicamente de teus lábios.
Tu vagas, então, solitário,
Pelas campinas em flor,
A procura de um pouso.
O corpo, dilacerado, pede descanso.
Morto, o corpo deseja o fim
Mas tua alma ordena: Prossiga, persevere!
Pobre poeta! Pobre lobisomem solitário
que caminhas pelo ermo
E de existir sem termo.
Tua maldição, contudo, é a redenção da humanidade.
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