Passo rápido na BR 101, dentro de uma van, olhando sempre para as laterais. Cegamente, vejo um vulto deitado e sobre o mesmo uma revoada de urubus. O carro se aproxima, identifico o animal, é um jumento. Os urubus descem e bicam frenética e vorazmente o pobre, podre e rígido de olhos secos. De sua boca, sai vermes longos, semelhantes a serpentes, que se contorcem no banquete da decomposição. O sol queima a gordura impregnada, na região interior da pele cabeluda e rasgada do bicho. A fome dos vermes e urubus se confudem com a dos moradores do lugarejo, que ora são o urubu ora o jumento, sendo o segundo uma constante na vida dos famigerados que habitam as laterais da pista preta. O carro passa da cena em um milésimo de segundos, não pude medir quantos angstrons tinha o tapuru. Fecho os olhos, baixo a cabeça e durmo indiferente a tudo que ví. |