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Poesias-->Paralelos -- 07/07/2002 - 19:05 (Darques Lunelli) |
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PARELELOS
Eu tinha um sonho sim:
era ficar ouvindo-te a noite toda
num silêncio compenetrado de quem bebe com os olhos.
Walt disse:
Cuidado com os homens da América, menino.; eles não mordem mas podem magoar.
Eu não sabia.
Outro dia vi Allen saindo do cinema com Michel
quis chamá-los
Ei caras!
mas pensei que poderiam estar conversando sobre os judeus de New York
ou sobre cozinha árabe
e resolvi não intervir.
Segunda-feira última tomei um pileque com Mishima.
Morita não ficou enciumado como podes pensar
somos bons amigos
deu-me um quimono azul
e aquelas gravuras que viste no meu quarto
o vermelho das cerejas é sangue, eu estava lá quando Yukio estendeu-lhe a mão e ele, com um alfinete de cristal, feriu-lhe o dedo e o sangue saiu.
Por isso todos se impressionam com o vermelho das cerejas.
A última carta de Jean é de 13 de abril
dois dias antes de sua morte.
Dizia ter sonhado com anjos esfarrapados
com Erik, Querelle e Nossa Senhora
já não tocava no nome de Decarnin
senti na carta um tom nostálgico
talvez previsse
quem pode dizer?
Tennessee ainda me acompanha.
O analista teima que é projeção.
Ele não sabe do beijo no Retângulo com Ganchos
nem da noite em Petrópolis, depois da festa.
Quando diz isso, sorrio.
Acha que estou maluco e isso é divertido.
Comentei com Jack que meu livro foi recusado.
Falou para eu não me preocupar e convidou-me para uma cerveja no Zellig
talvez Neal aparecesse, ou Gláucia.;
bebemos tanto que vimos o fantasma de Blake montado num cavalo vermelho cortando o céu como um cometa
Lá vai o Anjo!, Jack gritou
e duas lágrimas desceram dos seus olhos.
Ana não gosta da Hilda.
Diz que a assusta tanta insegurança.
Mas dos versos ela gosta.
Quando eu morrer ela fica no meu lugar.
Ana planeja algo.
Escrevi a Salinger falando a teu respeito.
Numa longa resposta diz que devia matar-te
Foi preciso com Seymour, ele diz, dominava-me.
Talvez tenha razão
mas
como seriam minhas noites sem tua companhia?
E depois tem isso:
não és um personagem que posso suprimir quando quiser
essa tua língua quando se choca com a minha não é imaginação
e quando falas...
Não posso, bem vês.
Queria mesmo era ficar amando-te a noite toda
num silêncio compenetrado de quem sonha acordado.
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