Laguna
Então, vejo teu rosto,
manhã esquecida de outubro
emoldurada nos teus olhos:
tenho tua ausência
contornando esta existência que te empresto,
como daria forma a saudade
se à pedra pudesse imprimir
a solidão dos teus pés nus em minhas mãos,
trêmulos pombos aprisionados.
Virá, como outrora, o amor guardado
desde a madrugada insone da partida,
gato escondendo nos gritos a angústia de ir-se
como uma lembrança fugidia
que trouxesse consigo um cheiro de mar
onde a laguna da tua ausência fosse um dia
abrigo de noites de espera.
Porto Alegre, 04-I-2002.
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