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Poesias-->CUNHAPORÃ, UMA HISTÓRIA DE AMOR- III -O LAGO ENCANTADO -- 29/06/2002 - 21:16 (J. B. Xavier)
CUNHA PORÃ compõe-se de doze capítulos. Aconselho aos leitores que efetuem a leitura a partir do primeiro, seguindo seqüencialmente a ordem crescente, para que o entendimento do enredo não fique prejudicado. * * * CUNHAPORÃ - PARTE III - O LAGO ENCANTADO J.B.Xavier Brincando n água, traçando planos No amanhã, na pedra imensa descansa linda Cunhaporã. Os olhos negros, tal qual a noite Mergulham fundo Naquelas águas, buscando a fuga Para outro mundo. Tudo está calmo, a lua brilha Lá dentro d água, Trazendo à tona toda a tristeza De sua mágoa. Qual seu destino? que triste sorte A aguardava? Tornar-se esposa, unir-se àquele Que não amava. Assim nas noites de agonia Vinha contar Sua sorte ingrata ao lago amigo E ao luar. Nas águas calmas. claros espelhos Se desfaziam, Lágrimas tristes, cheias de dor Em si caíam. A Lua e o Lago, então, amigos, A abraçavam, E envolvendo seu corpo todo A consolavam. Seus grandes olhos, seu corpo longo Amorenado Brilhava à Lua, deixando o Lago Apaixonado. Seu coração vibrante e terno Em si trazia A esperança do amor que a ela Viria um dia. E prometida a Ygarussú Estava agora. O casamento se aproximava, Chegava a hora. Tão linda e bela, Cunhaporã Todos queriam, E Ygarussú, bravo guerreiro Todos temiam. Ele a queria, e mais que isso, A desejava. Era por ela que guerras loucas Ele travava. Jassy, a lua, sua madrinha Que sempre ouvia Cunhaporã e seu choro manso Se enternecia. "Minha menina, que mal te aflige Que choras tanto? Há muito vejo teus lindos olhos Em triste Pranto... Que é dos tempos que aqui cantavas Sem teres mágoas? Deixando os peixes apaixonados À tona d água? E teu sorriso, que a noite escura Iluminava? E o viço louco que de ti, toda, Se exalava?" "Minha madrinha" - disse chorosa - "Será meu fim! Ygarussú , o Grande Chefe, Prefere a mim!" Então o ouviu-se uma voz maviosa Surgir cantando, E a selva inteira parou a ouvir Yara chegando. Surgiu do lago, de suas águas Enluaradas, A bela Yara, pele morena E aveludada. A voz de anjo soou tão clara E enternecida, Cantando o amor, a alegria, Cantando a Vida... "Minha menina, a cada fim Há um reinício... Saia de perto dessa beirada De precipício... Jassy, a lua, aclara sempre o teu caminho. E o lago amigo, se o quiseres, Será teu ninho... Não chores mais, o Bosque inteiro É teu amigo! E onde fores, nesta floresta, Irei contigo... Ygarussú é apenas força, Ignora o amor. Nunca aprendeu como se trata Uma bela flor... Vai, minha menina, para a aldeia Repousar. Jassy a lua, irá contigo Te iluminar... O vento sopra de muito longe, E traz no cheiro Um amor ardente rasgando um peito: Gentil guerreiro! Ledo cavalga, e vem dos pampas, Do lado sul, Dos verdes campos, prados bonitos E céu azul... Vai, minha menina, para a aldeia Repousar, Que teu amor vem cavalgando Sob o luar..." * * * E Cunhaporã, olhando Yara, Sorriu às imagens que a mente criara, Pensando no belo e gentil cavaleiro. seria o amor que tanto esperava? Seria, afinal, o amor que chegava? Sorriu e afastou-se em passo ligeiro. Andava e sorria feliz e contente. Nos olhos o amor, incontido, latente, No corpo o lume que a consumia. Na mente a infinda e terna espera Lembrando das coisas que Yara dissera. Jamais sentira assim, tanta alegria. Parou, estacando ao fim de um instante. Ali à sua frente estava o gigante. Nos olhos um brilho estranho trazia. Saiu de seus sonhos dos pampas do sul. Aquele à sua frente era Ygarussú . Sentiu-se num instante tão só e vazia. O grande oyakã , sisudo estacara, Sondando com o olhar o que a mente ditara. Sorriu num esgar um riso matreiro. Mãos calejadas em faces ardentes, Rolaram dos ombros aos seios tão quentes, O corpo gigante vibrava inteiro. A moça olhou para a lua tão clara, Lembrou-se do lago e lembrou-se de Yara, E de como dissera estar sempre por perto. Sorvida em abraços do forte guerreiro, Ouviu à distância o bote ligeiro Da onça faminta naquele deserto. Urros e gritos na mata ecoaram, Morte e agonia aos céus se elevaram E a selva acordou com o ruído da luta. Cunhaporã bendisse sua sorte, E viu mãos e garras ferindo de morte. Afastou-se correndo daquela disputa. Foge criança. Depressa, menina! Yara te salva e Jassy te ilumina! E a voz maviosa ela reconheceu. Abrindo caminho na mata com os braços , Rompendo os espinhos e mil embaraços, Á aldeia chegou com o desgosto só seu. Mais tarde, a taba agitada e atenta, Ouviu o silêncio seguir a tormenta Que a luta causara pelas cercanias. Ouviu o portão da aldeia se abrir, E em meio ao negrume da noite surgir O grande Oyakã , que ferido, sorria. Os dias passaram em festas e danças Das tribos guerreiras e das vizinhanças E todos sorviam o amargo cauim. E Ygarussú, o gigante, cantava Sua luta de morte, e como, com a clava, Pusera ao felino um rápido fim. “Olhei para o lado e vi o felino! As chamas nos olhos, o instinto assassino, E instantes depois caiu sobre mim. Rasgou-me a carne, feriu-me por certo, Deixei-lhe, no entanto, o crânio aberto! É esta sua pele. Que reine o festim!” FIM DA PARTE III * * *