O suicida
Tudo na hora da morte,
No que pensava o suicida,
Dantes abandonado pela sorte
Optou pelo outro lado da vida.
O pobre amanhecia com fome,
Necessidade era coisa comum,
Lutava mostrando a força do homem
E acabava dormindo em jejum.
Esposa a reclamar dia-a-dia
Por um pedaço de pão,
Chorando de barriga vazia,
O filhinho pedia benção.
Tudo na hora da morte
Ainda lutava o suicida,
Suas lágrimas eram suporte
O prendendo neste lado da vida..
No trabalho, pagamento não tem,
Só saia com mês de atraso,
Subia a conta do armazém
E o dono pronto a criar caso.
Doía os sentimentos paterno,
Sentindo não como dantes,
-Papai tá faltando caderno,
assim não sou bom estudante.
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Tudo na hora da morte,
Sofria e penava o suicida,
Suas rugas abriam-se em cortes
Virando uma enorme ferida.
O miserável mudou-se pra cidade,
Foi trabalhar numa construção,
Suor corria em quantidade,
Aumentava os calos da mão.
Não conseguindo morada
Teve que ser inquilino,
Deixando a vizinha danada
Com a anarquia dos meninos.
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Sonhava dentro da madrugada
A recompensa pela sua luta,
Mas não teve filha casada,
Uma a uma sendo prostituta.
Se consumia em desgosto.
Pedia a Deus, compaixão,
Ao ver seu filho mais moço,
Marginal e perigoso ladrão.
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O nascimento do primeiro neto
Foi uma das poucas alegrias,
Por fora, um homem discreto
Por dentro como sofria...
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Quando tudo parecia tranquilo,
Uma morte assolou a família,
Morrera a mãe dos seus filhos
A pessoa que bem lhe queria.
Então ficou desorientado,
Se apegando a cachaça,
Da família havia largado
Passou a viver na desgraça.
Tudo na hora da morte
No que pensou o suicida,
Dantes abandonado pela sorte,
Optou pelo outro lado da vida.
Levado a precipício
Despediu-se do seu sofrimento,
Subiu num alto edifício
E desabou como um monumento.
Tudo na hora da morte
Se matava o suicida,
Já se esquecera do norte,
Também as chances perdidas.
Foi um mergulho profundo,
A morte do suicida,
Que para o lamento do mundo
Deixou o resumo da vida.
TRECHOS DO POEMA O SUICIDA
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