Eu não olho o poema
como uma mulher grávida.
Antes, como um rastro
de água (mineral).
Antes, como um longo
encismado de pedras
entulhos, águas-vivas.
Antes, como uma serpente
pintada de sol e fogo.
Como um grito redondo
ou um fixo olhar de logro.
Eu não vejo o poema
como germinado sob
a água do rio, da ilha
além do rio, da escultura.
Construção de forma só
exegese e gênese total
que se serve de olhos
e bocas para vencer o mal.
Vida e sopro, brisa e pús
de vida, chaga de vida, vida
dimensão e luz cruel de vida
pasto, vida, força, vida.
Eu não olho o poema.
Antes, como o poema
depuro o poema
agrido o poema.
15.04.86 |