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Poesias-->A MARMITA E A FOME -- 08/03/2002 - 12:42 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A MARMITA E A FOME



(Ricardo França)



Nas lacunas das marmitas

caminham seres seqüestrados,

substratos que nunca vimos

pois a fome nos ordena:

- Veja sempre na marmita

a comida que te sustenta,

não olhe - diz a fome -

para a morte desses homens

nem seus nomes

esquecidos,

coma - insiste ela -,

é para isso que eu existo !



O fracasso desses homens

no entanto sangra,

e o vermelho

como um espelho

molha o almoço

e salga a janta.



- Não importa ! - diz a fome,

com o ódio na garganta -,

Eu sou forte

não admito

piedade ou esperança !

Devora também a sobra

e o vazio da marmita,

antes que a tua vida

eu também sintetize.

Eu sou mais poderosa,

portanto faça o que eu disse !



Mas a fome mais gigante

vem do fundo da marmita,

onde cem milhões de homens

enfraqueceram sem comida.



- Que se danem ! - grita a fome

bem mais forte e enfurecida -,

foi com a morte desses homens

que encheu-se a tua marmita !



Mas a dor que foi deles

está dentro da bendita,

e no fundo a minha fome

também está nesta marmita !



- Não me venha - fala a fome -

com tais vãs filosofias,

muito menos com sentimentos

e idéias comunistas !

Coma logo, eu te ordeno,

a comida da marmita !



Mulheres, meninos, homens,

são imagens já sem vida,

a história de todos eles

passam tristes na marmita.

Sonhos desfeitos, desesperos,

não podem ser minha comida !



- Como ousa recusar

a vitamina do alimento ?

Não poderá resgatar

com isso os mortos do sofrimento,

sem a marmita não há

vida por muito tempo !



Ora, que a morte caminha

na fome da respiração,

como o ar que se falta definha

e arrebenta de dor o pulmão,

mas se a minha marmita é farta

tem gente sem alimentação !



- Quer fazer a Reforma Agrária

no território da marmita ?

Pois faça e morra de fome

depois entre na maldita !



A fome que sinto agora

é a fome da Justiça !

Não quero ser digerido

pela fome da marmita,

mastigar o meu Nome

e nem homens como comida !



- Então preserve seus fantasmas

e deixe intacta a marmita.

Seja mais um a sofrer da desgraça

dessa grande carnificina,

dos que morrem na frente dos restaurantes

subnutridos, raquíticos, sem comida.

Não vale mesmo nada

a vida dos suicidas !



Engana-se, fome, comigo.

O ato dessa coragem

é o meu maior princípio.

Nego-me a covardia

de ser meu próprio inimigo.

Não satisfazer a sua gana

não é cometer suicídio.

É aí que você se engana,

não é o fim, mas o início !



E o homem venceu a fome

mesmo de fome morrendo.

Foi morar na marmita

e hoje eu compreendo,

o mistério que doía

naquele seu sofrimento,

da sua própria fome

ele foi o alimento,

escreveu no tempo o seu nome

e a morte não está doendo.

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