CÂNTICO
Eu, que venho de secas, que escrevi versos de dor,
ao ver meu irmão sedento agarrar-se em esperança,
manter-se sustentado pelo mínimo orvalho,
agora me deleito com o sorriso abundante que a chuva trouxe.
Eu, que no instante estou ao beiço do rio Jacaré,
contemplo, feliz e agradecido, a água que passa
cantando suas loas, anunciando a vida:
semeando, transformando, mas passando, sempre passando...
Eu, que faço tempestades em um copo d’água,
agora tenho um rio para me acalmar,
e — calado — grito essa minha prece de agradecimento,
de contentamento, ao meu único Deus qualquer.
José Inácio Vieira de Melo
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