A SECA
Vive em mim a imagem,
Terra seca, sol quente,
Galhos secos, sem folhagem,
Sem vida, sem ter gente.
Rios que não correm,
Terra que se racha,
Águas que desaparecem,
Na cacimba não se acha.
O vento poeira levanta,
Folhas mortas voam no ar,
Sertanejo com bravura enfrenta,
Na esperança que vai mudar.
O sol tudo queimou,
O verde desapareceu,
Até a água ele secou,
Quase nada sobreviveu.
Filas de latas e de potes,
Á beira de um cacimbão,
A espera que água brote,
Daquele ressequido chão.
Só quem viu pode dizer,
A tristeza daquela gente,
Ver a plantação morrer,
Queimada pelo sol quente.
O gado de sede, vi chorar,
Seu mugido era um clamor,
Na tristeza de seu olhar,
Representava tanta dor.
Ainda escuto a voz do vaqueiro,
Rebanhando todo o gado,
Na frente da boiada, o primeiro,
Gritando um choro cantado.
O ano de 58 não choveu,
Deserto, virou o sertão,
O sertanejo só sofreu,
Deixou na terra, seu coração.
Juscelino, o presidente,
Com tamanha inspiração,
Tirou a fome daquela gente,
Com trabalho na construção.
Brasília foi construída,
Trabalho dos nordestinos,
Toda essa gente sofrida,
Agradeceu ao Juscelino.
Trabalho e muita garra,
Com o coração livre de mágoa,
Foram feitos, Orós e Araras,
Para acabar a falta d’água.
Estrada foram construídas,
DENOCS fiscalizou,
Aquela gente destemida,
Com vontade trabalhou.
Cena viva, que doeu,
Mãos duras e calejadas,
O sertanejo sofreu,
hoje, cenas passadas.
( Apesar de tudo isso, ainda brincavam, pois diziam:
DENOCS - Deus Não Ordenou Cassaco Sofrer -
Sofre Cassaco Ordinário Neste Departamento ).
João C. de Vasconcelos
|